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sábado, 16 de setembro de 2023

SALVADOR ALLENDE - HOMENAGEM A ESTE GRANDE HOMEM E À SUA PÁTRIA, O CHILE

 


No dia 11 passado - 11 DE SETEMBRO - perfez 50 anos que este Grande Homem defendeu a sua honra e dos seus concidadãos, de armas na mão.

Os esbirros, telecomandados, assassinaram, após torturas inimagináveis, milhares e milhares de pessoas.
Homenagem a Salvador Allende e ao Povo Chileno, ComDor!

terça-feira, 21 de abril de 2020

ODE À VIDA - VISLUMBRANDO JÁ O INEVITÁVEL FIM - NEVER FORGET

Ver um familiar partir, mesmo acompanhando e partilhando o seu lento e prolongado sofrimento, é muito doloroso, mas está-se junto a ele. Porém, saber da inevitável despedida dum AMIGO com quem nos entrelaçamos permanentemente num afecto empático, fruto duma plêiade de pensamentos convergentes, sem lhe podermos dar um abraço, é DILACERANTE.

Foi o que aconteceu durante a evolução da terrível doença do Emanuel Tadeu, cônscio pleno do seu inexorável destino.

QUERO AQUI, NESTA ÚLTIMA POSTAGEM DA SUA ÚLTIMA MENSAGEM REMETIDA PARA MIM PRECISAMENTE 27 DIAS ANTES DA SUA ÚLTIMA VIAGEM, DEIXAR O TESTEMUNHO DO SEU VALOR INTRÍNSECO, DA SUA LUTA INSANÁVEL COM A DOENÇA E DO SEU EMPENHO PELA LUTA ATINENTE À MELHORIA DO SEU AMADO BRASIL.
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PARA O DILETO AMIGO CARLOS, COM O AFETUOSO E SEMPRE GRATO ABRAÇO DO EMANUEL



NEVER FORGET” 
(“NUNCA ESQUEÇA”)

Neste dia em que o inverno começa, não queria pedir indulgência pela emoção.
Escuto “Never Forget”, com Michelle Pfeiffer, e lembro-me do morango com nata que mamãe fez para mim quando passei no Exame de Admissão (não existe mais) no “Colégio Catarinense”, na Ilha, e iria para o Ginasial (também não existe mais).
Da letra: “Você está em casa”.
Nasci tarde demais.
“Diga que vai me entender”.
Revi mais uma vez “Meia Noite em Paris” (“Midnight in Paris”), de Woody Allen.
O tempo melhor de nossas vidas será sempre o que não vivemos: o outro – além.
Recordei-me de um diálogo de um filme em que um personagem, ironicamente, pergunta a outro se ele é um “suicida”.
O interlocutor responde de bate-pronto: “Só de manhã”.
E era o horário do dia que eu mais amava – havia um ritual, abria as cortinas do quarto e dizia: “Bom dia, dia”.
Bom dia, dia.
Querem saber (relevem o vitimismo) o que é um câncer doloroso e incurável:
A Velha Companheira, a Indesejada das Gentes na soleira da porta para me dar o bote, e eu espero, vivo esperando, vivo achando que sempre falta alguma coisa.
Afinal, o que é o câncer incurável? É isso. Ser suicida de manhã (a gente não se mata não), para mim a hora que mais dói (literalmente, não é dor metafórica ).
Meu (hipotético) Pai: Poupe-me das dores físicas, que das morais eu mesmo cuido.
“Amor e saudade estão estáveis”.
Recordei-me de uma discussão sobre a Misericórdia Divina e a Raiz do sofrimento e do Mal entre dois padres jesuítas cultos no início da década de 60, no “Colégio Anchieta” – onde fiz o antigo Curso Clássico, também estudei com Bolsa de Estudos (como no “Catarinense” em Florianópolis), em Porto Alegre.
O Sofrimento é um Mistério? É. Mas a constatação não me satisfaz.
Por que Deus teria feito os homens tão imperfeitos?
E a raiz do Mal? – insisto.
Vi aos 20 anos uma criancinha numa cadeira de rodas e aquilo nunca me saiu da cabeça.
Penso em Franz Kafka e Albert Camus – santos de minha imensa devoção – e constato: O Absurdo é a evidência que desperta.
Quando eu tocava no assunto, todos retrucavam: “Esqueces do Livre Arbítrio”.
Resta-me escutar de novo “Never Forget.
Uma voz mais forte me adverte: “Não seja chorão”.
Um homem de verdade enfrenta a morte de frente, olha nos seus olhos, bem lá dentro e deverá dizer: avante.
Michelle canta pungente e suavemente.
Por favor, escutem (a letra e a música).
O morango com nata, com um suco de maracujá, uma regata, o rosto de minha mãe, ela no fogão de lenha, posta de tainha frita, pirão d’água, e essa emoção que inunda esta manhã – ria, sem lágrimas.
Rio, com lágrimas...
Sentimental demais.
Estou segurando este meu Inimigo Íntimo há quatro anos, cinco meses e vinte e um dias.
Alfredo David, meu sobrinho e amigo, tão iluminado e amado, faria hoje 60 e foi-se com 28 anos.
Os mais brilhantes de uma geração carregam nas mãos uma vela que queima mais rápido?
Alguém me perguntou se minha geração – a de 1945, do final da guerra, fracassou.
Se quiser ser sincero, diria que internamente meus companheiros, meus melhores amigos, fizeram o que amaram: foram professores, editores, escritores, cineastas, cientistas políticos, engenheiros, jornalistas, advogados, médicos, arqueólogos, enfermeiros, servidores públicos, dramaturgos etc.
Deu para o gasto – não sei se para o gosto...
No outro sentido, sim, fracassamos.
A injustiça que combatemos nos nossos eternos 20 anos, cresceu, como a brutalidade, a morte na tortura, a vitória (provisória?) novamente da ignorância, da xenofobia, do preconceito, do ressentimento, do horror à inteligência, do neopentecostalismo mais reacionário, das redes antissociais fundamentalistas, do individualismo feroz, e do que mais deplorei e deploro, até o último momento da minha vida: a desigualdade torpe e obscena.
(Quero dizer eu tenho alguns amigos evangélicos autênticos e íntegros – não sou dono da verdade.)
VIVEMOS NO BRASIL E NO MUNDO UM PROCESSO DE REGRESSÃO CIVILIZATÓRIA.
Tomo os remédios, cuidam de mim, ainda como tainha frita, nata raramente encontro, e minha memória parece uma alameda de mortos – amigos tão amados.
E Michelle canta: “Jamais te esqueceremos”.
Ela proclama: “Você vai voltar para casa”.
Casa. Casa.
“Lembrei de todos os dias do sol de verão antes do inverno chegar”.
“Jamais vamos te esquecer.”

UM DIA ESTAREMOS TODOS EM CASA.
"Todas as imagens serão calcinadas pelo tempo. No máximo, nas conversas em volta de uma mesa de festa, pode ser que alguém lembre-se de uma parenta morta. Seremos apenas um nome, cujo rosto vai se desvanecer até desaparecer na massa anônima de uma geração distante". (Annie Ernaux).
E alguém acrescenta: "Nada restará de ninguém; Mas até lá, até o fim, até o nada, dará para compartilhar gestos, cidades, sentimentos, raciocínios, lágrimas, o mundo. Será possível sentir o que é comum a todos, a solidão".
Já foi muito repetido (justamente cristalizado): a arte nos salva, nos legitima.
Recordo-me do grande escritor negro norte americano James Baldwin (1924-1987): ”O riso e o amor vêm do mesmo lugar, mas pouca gente vai lá".
(Brasília, junho de 2019)

 EMANUEL MEDEIROS VIEIRA (falecido em 29 de Julho de 2019)

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                                          (Minha mensagem a esta Ode)

A Vida é definida como sendo o espaço temporal do nascimento até ao último suspiro. Assim será contigo, comigo e com todos. Aproveitemos os intervalos mesmo sabendo que muitos espinhos se atravessam à nossa frente, alguns irremovíveis,

Sobre o momento actual do Brasil, o Psicopata de Turno e seus acólitos cairão como fruta podre ... outros tempos virão desde que não se esmoreça na luta. Citando o nosso grande beirão Aquilino Ribeiro: SÓ ALCANÇA QUEM NÃO CANSA!

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                                        (Sua réplica)
ASSINO EMBAIXO TUAS ARGUTAS E LÚCIDAS OBSERVAÇÕES.
TAMBÉM CREIO: O PSICOPATA DO TURNO - USANDO A TUA FELIZ EXPRESSÃO - E SEUS SÓRDIDOS CÚMPLICES" CAIRÃO COMO FRUTA PODRE".
SIM: NÃO PODEMOS ESMORECER NA LUTA.
AVANTE!

PERFEITO O PENSAMENTO DE AQUILO RIBEIRO!


FRATERNO ABRAÇO DO EMANUEL

                      

terça-feira, 14 de abril de 2020

CARTA DE TITO GUARNIERE PARA EMANUEL

PARA O O CARO AMIGO CARLOS MOTA, ENCAMINHO BREVE CARTA DE NELSON WEDEKIN   (que assina com o pseudônimo de TITO GUARNIERI) A MIM ENVIADA.

INFORMO QUE NELSON WEDEKIN FOI ÍNTEGRO E COMBATIVO DEPUTADO FEDERAL  E SENADOR POR SANTA CATARINA - MEU ESTADO NATAL, LOCALIZADO NO SUL DO BRASIL.
REALIZOU UM EXCELENTE E DIGNO TRABALHO, SEMPRE NA DEFESA DAS MELHORES CAUSAS DO POVO BRASILEIRO.

GRATO PELA LEITURA E EVENTUAL POSTAGEM NO BLOGUE.

FRATERNO E GRATO ABRAÇO DO EMANUEL (Nota minha: falecido em 29 de Julho de 2019)

terça-feira, 25 de junho de 2019


Caro Emanuel :
Que pena, Emanuel, que logo você, que me falou um dia de uma manhã azul, e me tocou tanto, agora  as manhãs são  as que mais doem.
Mas, desculpe, não fico penalizado. Tenho-o da conta de um homem elevado e corajoso. Claro, não a ponto de amenizar a dor física. A ninguém ainda foi dado tal privilégio. E é fácil, à distância, só com as dores da idade (que no meu caso não são tão dramáticas) fazer comentários a respeito.
Em todo o caso, Emanuel, admiro tua paciência, teu estoicismo - tua lucidez e tua -de novo - coragem.
Belo texto, palavras certeiras, estilo íntegro, que nem a doença logrou alcançar.  Tua escrita é, por assim dizer, o sinal mais forte de que ainda estás de pé. Sei que existem os sentimentos, as doces lembranças, o convívio amoroso com os teus. Sei que devem existir momentos de desânimo. Não sei quando partirás - espero que ainda tenha um bom trecho da estrada. Mas precisas saber que, de algum modo, deixarás um legado, de gestos, palavras, atitudes - sonhos sonhados e desfeitos, esparanças vívidas e realidades decepcionantes. O que importa , já disseram tantos, é a caminhada, não o destino final.
Nós sempre teremos a nosso favor o sorriso largo e o riso solto, a filosofia fácil e a que não se compreende bem, a  bisbilhotagem infantil, as nossas previsões catastróficas, o otimismo contido, o nosso amor à vida, as paixões secretas e as que não dava para disfarçar,  a nossa discreta proteção dos amigos(ignorando os seus-deles-erros e defeitos), perdoando aqui e acolá  mas não esquecendo, derramando uma lágrima sutil de emoção da cena do filme, do acorde da música, da rima poética, do texto que  gostaríamos de ter escrito(mas que coube a outro mais telantoso), dos nossos tropeços, dos nossos êxistos modestos, dos nossos medos - bem, Emanuel, de tanta coisa, como aquelas que você descreve a fala no teu texto.
"Nunca esqueça" - , leio o título e me vêm a cabeça o que disse alguém ( não tenho facilidade para as citações , como você ): " Quando eu era mais novo, me lembrava muito bem do que tinha acontecido e do que não tinha acontecido. Agora, a caminho da velhice, sinto que só me lembro do que não aconteceu". (a citação é mais ou menos assim, não é literal). 
D'ont forget, dear friend, que neste lado de baixo do mapa deste país tão esgarçado nos seus dramas e nas suas contradições, há gente como eu que reza e torce pela vida, que deseja ardentemente e reza pela teu bem estar e pela tua saúde.

Abraço do N.Wedekin

quarta-feira, 8 de abril de 2020

AVES DE RAPINA

AVES DE RAPINA
Em memória do poeta Juan Gelman*

Os shoppings são a antiga Ágora grega – o coração da cidade.
Globalização? Da indiferença?
Cabeças decapitadas, império do tráfico.
Um menino me indaga; “O mal está vencendo?”
Olho fixamente nos seus olhos: “Está”.
Consolo-o: “Mas não será para sempre.”
Sociedade do espetáculo, e o templo é de consumo – não para orar.
O que significa isso tudo?
Desejo do tênis de marca?
Ou de proclamar: “também existimos”. Grito contra a exclusão, voz dos que não têm voz – a periferia berrando? Não sei. Sei que a baixar o cacete não resolverá. A medida de valor ainda é o dinheiro, a cor da pele.
Desigualdade? Sim. Viramos apenas consumidores. Não cidadãos.
Fim de tudo? De sonhos, ilusões, projetos? Ou não é nada disso.
Será necessária uma funda reflexão sobre o rebaixamento da política no Brasil, onde imperam as manadas, seitas e torcidas organizadas, que não atuam – como já detectaram vários observadores – não em função de suas propostas e de seus projetos, mas apenas para a desqualificação dos que pensam de forma divergente.
“As manadas funcionam como seitas messiânicas submissas às redes sociais”.
Ou redes antissociais?).
E um mundo dessacralizado – sem fé.
“O presente é tudo o que tens como tua possessão. Como Jacó fez com o anjo: retém-no até que ele te abençoe”.
(John Greenleaf Whittier.)
*Juan Gelman morreu no México, em 14 de janeiro de 2014, o poeta e jornalista argentino Juan Gelman. Durante a ditadura militar argentina (1976-1983), Gelman teve o seu filho ((Marcelo) assassinado. Sua nora, Maria Cláudia, foi sequestrada enquanto estava grávida e levada ao Uruguai pela “Operação Condor”. Nesse país, deu à luz e desapareceu. A filha do casal (Macarena) foi entregue a um policial uruguaio e só teve a identidade revelada em 2000.
Grande parte da vida deste grande poeta e humanista foi dedicada (com comovente paixão e intensidade) a esclarecer o que havia ocorrido (com sua família e com o seu país), naqueles tempos tão sinistros e sombrios.

EMANUEL MEDEIROS VIEIRA (falecido em 29 de Julho de 2019)

quarta-feira, 1 de abril de 2020

PELOURINHO

PARA O O ESTIMADO AMIGO CARLOS, ENVIO UM TEXTO SOBRE O PELOURINHO, EM SALVADOR - AGRADECENDO ANTECIPADAMENTE A INSERÇÃO NO BLOGUE -, COM A AMIZADE E GRATIDÃO DO EMANUEL

PELOURINHO
PELOURINHO: PATRIMÔNIO AMEAÇADO

Muito acreditam que o Pelourinho é o monumento histórico mais importante da História do Brasil. Ele está ameaçado.
O Centro Histórico de Salvador (CHS) é considerado o patrimônio histórico que está mais em risco no Brasil, na visão da organização sem fins lucrativos “Worls Monuments Fund” – que trabalha pela proteção de monumentos e patrimônios do mundo –, com sede em Nova Iorque, nos EUA, como lembrou matéria de Hieros Vasconcelos Rego.
Para a organização, o CHS é um dos patrimônios mais ameaçados pelo descaso governamental ou pela ação da natureza.
A ONG aponta para a “vulnerabilidade da região”, com economia em declínio, criminalidade e infraestrutura decadente.
O Pelô (como é conhecido) virou também paraíso de “craqueiros”.
Vivi oito anos em Salvador e pude acompanhar a degradação do Pelourinho e de outros sítios fundamentais para a memória e a História do Brasil.
Os comerciantes e turistas e –- PRINCIPALMENTE – OS VIVENTES DAQUELE ESPAÇO DE NOSSA MEMÓRIA –reclamam constantemente da situação em que ele se encontra.
O sociólogo George Almeida acredita que áreas que têm uma só vocação – como o turismo –, caso do Pelourinho – estão fadadas à deterioração.
É preciso dialogar com os moradores, não enxotá-los.
É necessário fazer algo enquanto é tempo.
É um dos mais belos patrimônios da História do Brasil que está sendo abandonado.
COMPLEMENTO: Com uma foto da invasão da Nova Constituinte (uma favela no subúrbio de Salvador), a versão online do “The New York Times”, publicou, há tempos, a matéria “As Prosperity Rises in Brazil’s Northeast, So Does Drug Violence” (“Assim como cresce a prosperidade do Nordeste do Brasil, cresce a violência das drogas”), de autoria de Myrna Domit.
Fala da violência de Salvador, o que – conforme detectou um jornalista – marca um novo tempo nas abordagens dos norte-americanos sobre a Bahia.
“Antes só dedicava espaço sobre nossas belezas naturais”.
Muitos preferem optar pela visão estereotipada, enganadora e carnavalesca da cidade da Bahia –como Jorge Amado chamava Salvador –, que enriquece cada vez mais o “andar de cima”, estimula o “apartheid” e empobrece cada vez mais os humilhados da cidade mais negra do Brasil e uma das mais negras do mundo– afora as metrópoles africanas –, e na qual o racismo (parece exagero) ainda prevalece,
Essa visão “colorida” e falseada, visa trair turistas (muitos deslumbrados) e, no fundo, incentivar o turismo sexual em todos os níveis (como o de crianças e adolescentes).
Quem vive o dia a dia da cidade sabe que a visão das grandes redes de televisão e da própria mídia impressa, é mentirosa e aposta na enganação.
Aos poucos, começam a enxergar o lado macabro.
Em suma: a violência – banalizada no Brasil toda – está migrando para todo o Nordeste brasileiro.
Vivemos em uma cidade também porque a amamos e desejamos continuar nesse território. A perda de um espaço público com a magnitude cultural do Pelourinho, “debilita a sociabilidade, rebaixa a nossa autoestima, cava um lugar para a dor no nosso corpo”.
Tanto mais quando uma cidade, ou parte dela, ganha foros de Patrimônio  Cultural da Humanidade - como Salvador; 

EMANUEL MEDEIROS VIEIRA (falecido em 29 de Julho de 2019)

quinta-feira, 26 de março de 2020

MÁRIO FAUSTINO

CARO AMIGO CARLOS
BOM DIA!
SAUDAÇÕES!
ENVIO UM CURTO TEXTO SOBRE UM DOS MAIORES POETAS BRASILEIROS DE SUA GERAÇÃO - POUCO CONHECIDO E QUE MORREU COM APENAS 32 ANOS: MÁRIO FAUSTINO.

GOSTARIA QUE OUTRAS PESSOAS CONHECESSEM A SUA OBRA.

O BRASIL CONTINUARÁ A SER O PAÍS DO ESQUECIMENTO?

Fraternal e grato abraço do Emanuel

MÁRIO FAUSTINO (1930–1962)

Não conseguiu firmar o nobre pacto/Entre o cosmos sangrento e a alma pura/Porém, não se dobrou perante o fato/Da vitória do caos sobre a vontade/Augusta de ordenar a criatura/Ao menos: luz ao sul da tempestade./Gladiador defunto mas intacto/(Tanta violência, mas tanta ternura).” (...)
(MF)
Tão cedo morreu. E foi um dos maiores poetas de sua geração. E um dos temas mais obsessivos de sua obra foi a morte.
“Não morri de mala sorte/Morri de amor pela Morte”, escreveu ele.
Nasceu em Teresina, mas a maior parte dos seus estudos foram feitos em Belém.
Foi jornalista, tradutor, crítico literário e poeta.
Em 1955, publica seu primeiro e único volume de poemas: “O Homem e sua Hora”.
Em 1956, muda-se definitivamente para o Rio de Janeiro.
Torna-se editorialista do “Jornal do Brasil” e colabora com o famoso Suplemento Dominical (SDJB).
Um dos seus lemas foi: “Repetir para aprender, criar para renovar”.
Diz a lenda que ele pressentiu sua própria morte.
No início da década de 60, uma astróloga pressentiu uma catástrofe nos anos que viriam (segundo relato de Almir de Freitas).
Sua reação teria sido, inicialmente, um tanto cética.
Em 1962 – segundo informes – adiou o quanto pôde uma viagem para a Cidade do México e, quando finalmente decidiu embarcar, deixou à sua mãe e cunhada instruções minuciosas de como proceder no caso de um “desastre”.
No dia 27 de novembro de 1962, perto das 5h30, o Boeing da Varig em que estava preparava-se para uma escala em Lima, no Peru, quando espatifou-se no Cerro de La Cruz, matando todos os passageiros. Seu corpo nunca foi encontrado.
Assim, aos 32 anos, desaparecia um dos maiores talentos de sua geração.
Glauber Rocha (1939–1981), no seu belo e denso “Terra em Transe” (1967), homenageia-o transcrevendo os versos citados na epígrafe deste texto.
Sua morte, segundo Almir Freitas, abriu um vazio na inteligência brasileira.
Creio que sua obra, mereceria uma análise mais longa e densa.
Mas meu maior intuito é que as novas gerações possam conhecê-lo, pelo menos superficialmente.
Ironia (como quase sempre acontece na vida): contam que a casa em que viveu em Teresina foi demolida e lá foi instalada uma agência da Varig – a mesma empresa cujo Boeing em que ele estava, espatifou-se nas montanhas em 27 de novembro de 1962.

EMANUEL MEDEIROS VIEIRA (falecido em 29 de Julho de 2019)

quinta-feira, 19 de março de 2020

RUGGERO

ESTIMADO CARLOS
SEI QUE NÃO É ÉPOCA DE ENVIAR TEXTOS. FESTAS.
MAS NÃO QUERIA TERMINAR O ANO SEM TE REMETER O CONTO-REPORTAGEM INÉDITO.
É UMA MEDITAÇÃO SOBRE A OPÇÃO POLÍTICA, SOBRE OS SONHOS E FRACASSOS DE MINHA (nossa?) GERAÇÃO.
Sem imodéstia, trabalhei muito nele.

MUITO GRATO PELA EVENTUAL INSERÇÃO NO BLOG!
Afetuoso e grato abraço do Emanuel

 
RUGGERO

Em memória de Maria Aparecida (Cida) e Arnoldo Castanho de Almeida – irmã, cunhado, compadres – imensos e eternos amigos (dos maiores que já tive em minha vida) –, “encantados”, respectivamente, em 8 de outubro e 12 de julho de 2018

Lembro-me do padre jesuíta italiano Ruggero – tão alto – a gente varando noites, conversando sobre Teilhard de Chardin (1881-1955), Soren Kierkegaard (1813-1855), existencialistas cristãos como Gabriel Marcel (1889-1973) – que rejeitava o termo “existencialismo” –, Emmanuel Mounier (1905-1950) – fundador da revista “Esprit” –, agnósticos e ateus, como Albert Camus (1913-1960), Jean Paul Sartre (1905-1980), e marxistas como Maurice Merleau-Ponty (1908-1961).
No final – sempre no final – ele arrematava:
– Nunca te esqueças da Misericórdia Divina.
(Ele era sempre profundo, mas – nesta frase – queria ser abertamente “solar”.)
MISERICÓRDIA DIVINA.
Ele acreditava que eu era possuidor de uma “fé forte e cósmica”, mas que o tempo, as leituras e as dúvidas me afastaram dela.
– Quero te dar mais ÂNIMO, e falava mais alto e soletrava a palavra “ÂNIMO”.
Ria, me abraçava.
Ruggero era muito culto, leitor voraz, mas sua sabedoria maior era a simplicidade.
Tomávamos vinho, assistimos juntos duas vezes “O Sétimo Selo”, 1957, (“Det sjunde inseglete”) ”Morangos Silvestres” (Smultronstället”), 1957, de Ingmar Bergman (1918-2007).
Também vimos várias vezes a “Rastros de Ódio” (“The Searchers”), 1956, de outro grande mestre: John Ford (1894-1973).
Gostávamos muito também de Orson Welles (1915-1985) e assistimos algumas vezes “A Marca da Maldade” (“Te Touch of Evil”), 1958, que admirávamos muito, até mais que “Cidadão Kane” (“Citizen Kane”) 1941 – por muitos considerado o melhor filme de todos os tempos.
Um dia, ele morreu.
Tinha um carinho enorme pelos “humilhados e ofendidos da terra”, como dizia, pelos pobrezinhos, pelos sem nada.
Modesto, batina puída, evangelizava operários em comunidades pobres de Porto Alegre e pescadores em Florianópolis – não era amado pelos hierarcas, poderosos e conservadores da Igreja– afora a burguesia da capital gaúcha e da Ilha do meu nascimento.
Estávamos na década de 50 do século passado.
E um dia– parece incrível – fui eu a consolá-lo.
Triste, ferido com injustiças e perseguições (que não relato aqui), aquele sacerdote loiro (parecendo um camponês do interior de Santa Catarina), de quase dois metros, desajeitado, possuidor de um coração maior que ele, morando em uma casinha simples de madeira, num bairro humilde de Porto Alegre (antes estivera durante dois anos em Ponta das Canas, em Florianópolis, praia bela do Norte da Ilha de Santa Catarina, minha terra natal – ainda aprazível, pregando para os pescadores, dando para os pobres até a roupa do corpo, dividindo tudo o que tinha.
Foi o primeiro padre socialista que conheci – visceralmente autêntico.
Sempre achei que ele nascera na época errada. Deveria ter vivido na época das Catacumbas, levando a palavra de um Jesus pobre e libertador contra o Império Romano.
Resolvemos entrar na AP (Ação Popular) – organização originária da esquerda católica –, mas isso é outra história.
Ele lembrava-me o corajoso Padre Nando, do romance ”Quarup”, 1967” (um dos mais belos da literatura brasileira), de Antônio Callado (1917-1997) que, no final, opta pela luta armada no combate à ditadura militar.
Escrevi acima: Um dia, ele morreu.
Qual a causa (indagam)? Foi “pelo coração” – ataque cardíaco. Mas acho que morreu de tudo, de tudo um pouco, devido às perseguições sofridas, às injustiças que percebia no tão imperfeito mundo, à inveja de que foi vítima, difamado por tantos seres medíocres e mesquinhos.
Havia abandonado a batina, voltou para a Itália, mas retornou ao Brasil para se despedir.
Então, já era um velho, cabelos brancos, parecendo mais baixo, o olhar azul mais triste.
– “Desta vez, fui eu quem perdi a Fé”, me confessou.
Tentei animá-lo, não falando em igreja, “reconversão”, nada. Mas nos filmes que havíamos assistido juntos.
– Não há nada depois daqui, ele disse.
“Depois daqui” era depois da vida terrena– é claro (sinto-me agora redundante).
Hoje, no crepúsculo da minha vida, doente, vejo o seu rosto. É um retrato que mandei emoldurar.
Mostrava o momento de um churrasco numa chácara em Viamão, com poucas pessoas, eu, Décio Andriotti (que morreu em Milão, aos 85 anos, em 29 de abril de 2018, um domingo), Eduardo Dutra Aydos, Rogério Scanzerla (1946-2004), e sua então mulher Helena Ignês.
1969. Rogério fora lançar em Porto Alegre, no extinto “Cine Marrocos”, no bairro Menino Deus, o seu hoje clássico “O Bandido da Luz Vermelha” (1968).
Tomamos vinho, ríamos muito. Era a celebração da amizade.
Devo ao Décio – meu professor no antigo Ginasial (1958-1961) do “Colégio Catarinense”, em Florianópolis –, ao meu ex-professor no Clássico (1962-1964), “Colégio Anchieta”, Porto Alegre, também jesuíta (nos dois educandários estudei com bolsa de estudos), a o Roberto Figurelli, ao Paulo Fontoura Gastal (1922-1996), minha paixão pelo cinema. Em ambos, tinha bolsa de estudos.
Ruggero, para mim, era um “romântico crepuscular”.
Ele achava o mesmo de mim.
Ofertou-me ÂNIMO – com seu enorme coração e compaixão – e não está mais aqui.
Mas não restou o oblívio. A fé vai e volta. Aparece, desaparece. Está mais longe da infância do que eu mesmo. Do que eu queria. Do que meus pais aspiravam. Tenho culpa? Deus perdeu o meu passaporte? Do meu país? Estou sentimental demais?
Ele era daqueles seres que só aparecem de vez em quando. Muito poucos homens chegam como tu, Ruggero.
Nunca te esquecerei. Devo a ti o que chamo de “HUMANISMO EM TEMPOS ÁSPEROS E DISTÓPICOS”.
Sinto-o (RUGGERO) presente – como vários amigos já mortos – em muitos momentos (a maioria) desta vida – na sua reta (ou curva) de chegada.

EMANUEL MEDEIROS VIEIRA (falecido em 29 de Julho de 2019)