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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

PROLONGAMENTO DA VIDA ATÉ CENTENAS DE ANOS JÁ NÃO É FICÇÃO

Este vídeo merece muita reflexão porque parte do que lá é transmitido está já implantado e a outra parte é perfeitamente verosímil, segundo os cientistas da área


Se houver dificuldade na tradução, clicar na hiperligação:

https://www.youtube.com/embed/KGD-7M7iYzs

abrir e se não se visualizarem as legendas clicar em "Legendas". Se estas não estiverem expressas em Português abrir Definições (rodinha dentada) e selecionar a Língua.


Carlos Jorge Mota

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A LÍNGUA CASTELHANA, O CHAMADO ESPANHOL E O CONCEITO CORRETO DE HISPÂNICO

Chamar-se “espanhol” à língua castelhana é uma designação meramente política e que está a ser globalizada pelo Instituto Cervantes, na minha opinião, com um objetivo hegemónico. Foi por esse método que o termo “hispânico” passou a ser considerado relativo a Espanha. Espanha deriva de hispânico e não o contrário. Mas o que é e do que resultou o país Espanha?
A península ibérica detém esse nome há já alguns milénios, decorrente do Rio Ebro, e os seus habitantes designavam-se por Iberos. Ela foi invadida pelos Celtas, vindos da Gália, hoje França. Da união dos Iberos com os Celtas resultaram os Celtiberos, que formaram cinco grupos, um dos principais dos quais eram os Lusitanos. Também se estabeleceram, em diversos pontos da península, outros povos: primeiro os Fenícios, depois os Gregos e, mais tarde, os Cartagineses. Estes pretenderam assenhorear-se de toda a Península Ibérica, o que obrigou os Celtiberos a pedir auxílio aos Romanos. Estes últimos, triunfantes, quiseram também apoderar-se da Península, encontrando, todavia, a resistência enérgica dos Lusitanos, comandados primeiro por Viriato e depois, após o seu assassínio, por Sertório, dissidente romano. Ibéria, assim era designada esta península pelos Fenícios, pelos Gregos e pelos Cartagineses. Mas, com a chegada dos Romanos estes alteraram o seu nome para Hispânia. Entretanto, e ao longo dos séculos subsequentes, foram chegando outros diversos povos, bárbaros do norte: Alanos, Suevos, Vândalos e finalmente os Visigodos cujo domínio durou mais de dois séculos. Entretanto, em 711, atravessando o Estreito de Gibraltar, chegaram os Mouros que os derrotaram na terrível Batalha de Guadalete. Os Mouros ficaram então senhores de toda a Península (Hispânica) com exceção dum recanto das montanhas das Astúrias onde se refugiaram os godos. Sob o comando de Pelágio, trava-se a Batalha de Covadonga com os Mouros, sendo estes derrotados. Instala-se assim o primeiro Reino Cristão (Astúrias) que, de batalha em batalha, foram empurrando os Mouros para sul, até Granada. Entretanto, mercê das leis de sucessão, foram-se formando outros reinos, até se chegar ao Reino de Leão cujos monarcas, em atos sucessivos, atribuíram condados, mas sob a sua vassalagem. É desta divisão que surgem o Condado da Galiza e o Condado Portucalense, cuja língua falada era a mesma. Do Condado da Galiza emergiu a atual Galiza e do Portucalense emergiu Portugal em 1143, separados pelo Rio Minho. Os Portugueses foram alastrando o seu reino para sul, derrotando e expulsando sucessivamente os Mouros (ficaram os que pretenderam, assim nasceu a Mouraria em Lisboa) – e absorvendo linguisticamente a sua influência - que se refugiaram para além da atual fronteira, juntando-se aos restantes, até 1492, data em que os componentes dos reinos entretanto formados a norte os expulsaram definitivamente da Península Hispânica, na Batalha de Granada, sob o comando de Fernando de Aragão. 
No Século XII, sob o codinome João XXI, Pedro Juliâo Rebolo, nascido em Lisboa, é designado Papa. Embora sob aquele codinome papal ficou conhecido na história como Pedro Hispano. Portanto, hispânicos somos nós todos os povos que vivemos nesta península e não só os espanhóis. A tentativa de hegemonizar o nome foi sempre uma pretensão da Espanha, com aspas ou sem aspas, porque haverá várias Espanhas. Embora os castelhanos digam que a Espanha o é como país desde o casamento dos Reis Católicos, em 1492, será assim de facto? E então os outros reinos que coexistiam e cujos soberanos tinham que se reconhecer uns aos outros? A primeira referência escrita a Espanha como país data de 1812 na Constituição de Cádiz, mas há historiadores que consideram que o seu nascimento só se dá após a queda do seu Império.
A atual Constituição Espanhola em vigor, de 1978, diz, no seu Artigo 3º, Número 1:
“Castelhano é a língua espanhola oficial do Estado. Todos os espanhóis têm o dever de saber e o direito de usá-la."
E no dois: "as outras línguas espanholas serão também oficiais nas respectivas Comunidades Autónomas, de acordo com seus estatutos."
E agora uma pergunta: será por acaso que a Espanha colocou a designação de Ibéria à sua Companhia Aérea de Bandeira?


Carlos Jorge Mota

CANTE ALENTEJANO

Em 27 de novembro de 2014 a UNESCO designou o CANTE ALENTEJANO como Património Imaterial da Humanidade.
Portugal regozija-se por tal atribuição e o Alentejo fica orgulhoso pelo seu Canto.


Carlos Jorge Mota

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

SE NÃO FOR PELA POESIA, COMO CRER NA ETERNIDADE? Emanuel Medeiros Vieira

Se não for pela poesia, como crer na eternidade?
(Alphonsus de Guimaraens Filho)
Sobra este afeto
(a muralha que me resta).
Sim, é este patrimônio que me cabe-
sem valor contábil,
o que amo,
contra o ruído, o mal e a bofetada.
Tribo perdida,
só queremos saber de nós mesmos.
Minha verdadeira cidadela é o território dos afetos.
transformado estou: no guerreiro que não me
imaginava mais, exaurido: ainda assim combatente.
Restaurado o menino que viu a regata:
é esta matéria mnemônica que tento re-fundar  aqui,
papel em branco, nova manhã.

O latim do colégio ensinava que “recordar” vem de:
“recordis”:
tornar a passar pelo coração.
(A poesia perpetuará esta fugaz manhã, despistando a
morte?),
vem, menino, sossega o coração na manhã azul,
me legitima na palavra escrita,
eterniza  o  poema para os que vierem depois:
é minha oferenda (o sentido desta peregrinação).
Emanuel Medeiros Vieira

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

DISCURSO DA PRESIDENTE DO BRASIL NA O.N.U.

Discurso de Dilma Rousseff, Presidente do Brasil, na Abertura da 69ª Sessão da Assembleia-Geral da O.N.U, em 23 de setembro de 2014

https://www.youtube.com/watch?v=Zka92zsCCrM

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

FOI ESTA EUROPA QUE NOS "VENDERAM"?

PARLAMENTO EUROPEU

É a isto que se chama Democracia? Uma vergonha. Cambada de oportunistas sem escrúpulos.

                                   

           

domingo, 7 de setembro de 2014

7 DE SETEMBRO - EXALTAÇÃO À PÁTRIA BRASILEIRA

https://www.youtube.com/watch?v=XIR1iUpwZhs

ALOCUÇÃO PROFERIDA PELO CORONEL BRASILEIRO MANOEL SORIANO NETO, NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO DISTRITO FEDERAL (IHG/DF), EM BRASÍLIA-DF, E NA ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DO PLANALTO (ALAP), EM LUZIÂNIA-ESTADO DE GOIÁS, NOS DIAS 2 E 4 DO CORRENTE:


Para bem exaltarmos a Independência da Pátria, ocorrida em 7 de setembro de 1822, mister se faz, preliminarmente, que façamos uma histórica e longa visada-à-ré, a fim de bem entendê-la.

Dizia Cícero que “a História é a mestra da vida”, pois ela é a senhora dos tempos, a luz da verdade, a vida da memória, a mensageira da antiguidade. E a História para ser de utilidade ao Homem e ter sempre por escopo a verdade e a justiça, deve assentar-se em duas condicionantes: o seu registro e a sua veracidade; sem registros, ela se perde, além também de ser passível de deformação, pelo que o historiador não pode ser levado por caprichos, simpatias ou antipatias: ele deve primar pela neutralidade, ser isento, amoral (no sentido sociológico do termo), imparcial, enfim.

Em 22 de abril de 1500, este país-continente foi descoberto, mercê da audácia, coragem e determinação do indomável português, quando a frota de Pedro Álvares Cabral aportou na Bahia, “achando” a nova terra. Naquele ano final do século XV (e não XVI, como é correntio dizer-se), acentuava-se de forma exacerbada, o sentimento de religiosidade. As tradições do Condado Portucalense, berço da nacionalidade lusa, remontam aos monges-soldados das Ordens Militares, que lutaram junto à Cruzadas, contra os mouros invasores da Península Ibérica, e profanadores de locais sacrossantos, como o Templo de Salomão, razão pela qual foi criada a esotérica Ordem dos Cavaleiros Templários, extinta pelo Papa, em 1319. Para substituir a Ordem dos Templários, o rei Dom Diniz instituiu a Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Infante Dom Henrique, “o Navegador”, era o grão-mestre dessa Ordem e, ao fundar a Escola de Sagres, no início do século XV, convocou os melhores Cavaleiros da Entidade para as grandes navegações marítimas. “Navegar é preciso, viver não é preciso!”. Era o apelo, digamos, propagandístico, da famosa Escola, com vistas ao recrutamento e à formação dos melhores argonautas. Tal marketing, na realidade, queria dizer que a navegação era segura e precisa, de precisão matemática, em face do desenvolvimento do que hoje chamamos de ciência e tecnologia e que Portugal vinha muito bem dispondo, tudo ao contrário do que ocorria na incerta existência humana. Não se referia ao desprezo pela vida, a qual, então, passaria a ser secundária à arte de navegar; não era o “maktub” (“estava escrito”) árabe, tão combatido por eles, fervorosos católicos, mas uma motivação científica (os portugueses detinham a mais avançada tecnologia de navegação do mundo) para o ato de singradura  pelo desconhecido Mar-Oceano. Fernando Pessoa, posteriormente, deu um sentido poético e fatalista ao slogan, o qual passou a ser mal compreendido até hoje.

Pelo sentimento forte de religiosidade, as naus e caravelas de Portugal, que zarpavam para mares nunca dantes navegados, conduziam em suas brancas velas, com reverência e orgulho, a Cruz da Ordem de Cristo, estampada em vermelho vivo, cor original da Corporação, cuja finalidade eram “a expansão do Império e a propagação da fé, até lá bem donde nasce o sol” (diga-se, por ilustração, que a bandeira da Ordem de Cristo foi, até meados do século XVII, a da terra recém descoberta, o nosso amado Brasil) e, “se mais terras houvera, lá chegara” o intrépido lusitano, sob o lema do “enverga mas não quebra!”.
O Brasil foi, portanto, descoberto, melhor dizer-se, “achado”, em decorrência de um ousado empreendimento religioso-militar. Destarte, o país nasceu sob a proteção da Cruz e da Espada, tanto que o motivo do sermão da Primeira Missa foi o do sinal da cruz, razão por que o Almirante Pedro Álvares Cabral determinou que se substituísse por uma cruz de madeira, o conhecido padrão de posse, com as Armas de Portugal, ato bem caracterizado em consagrada aquarela, de Pedro Peres, de título “A Elevação da Cruz”, constante do acervo do Museu de Belas Artes, no Rio de Janeiro.
As glórias desses fastos de nossa bela gesta se devem a Pedro Álvares Cabral e aos seus argonautas, os monges-soldados, mas, fundamentalmente, à galhardia portuguesa que pode tão bem ser evidenciada, na determinação para a construção do monumental Forte Príncipe da Beira, por Dom Luiz de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, governador e Captão-general da Capitania de Mato Grosso, em 1776, que assim ordenou: “A soberania e o respeito de Portugal impõem que neste lugar se erga um Forte e isso é obra e serviço dos homens de El-Rei nosso Senhor e, como tal, por mais duro, por mais difícil e por mais trabalhoso que isso se dê, é serviço de Portugal. E tem que se cumprir!”.
Para ainda melhor entendermos a nossa Independência, urge que remontemos ao ano de 1808, quando a Corte portuguesa se transmigrou para o Brasil. Passados pouco mais de duzentos anos a interpretação do fato se torna muito mais fácil. Quando Napoleão Bonaparte decretou o bloqueio continental contra os interesses britânicos, Portugal, aliado da Inglaterra, não dispunha de meios suficientes para enfrentar o poderio bélico francês. Dom João seria feito prisioneiro pelas tropas franco-espanholas, como ocorrera com o seu cunhado, Fernando VII, da Espanha, e perderia o Trono. Então, para preservar a Coroa, a dinastia dos Bragança e o próprio reino português, o Príncipe Regente decidiu não se submeter à invasão do general Junot, embarcando para o Brasil, a sua principal Colônia. O Oceano Atlântico, dominado pela Marinha inglesa, seria a natural proteção da Corte em terras brasileiras. Os portugueses permaneceriam resistindo junto com o Exército inglês, até à retirada dos invasores. Napoleão diria, ao depois, que fora enganado por Dom João. Portanto, a transmigração da Corte lusitana afigura-se, na visão histórica hodierna, como uma alternativa bastante lógica para a sobrevivência do pequeno Portugal. Ademais, tal alternativa, longe de ter sido uma fuga covarde, como se apregoa, alhures, foi preparada com muita antecedência, sem improvisação. Grandes vultos da História lusa, como o Marquês de Pombal e o Conde de Linhares, a haviam aconselhado (acrescente-se que ela foi vaticinada pelo notável Padre Antônio Vieira), caso Portugal, um país de pequena dimensão, pouco populoso e de reduzido poder militar, fosse ameaçado em sua integridade territorial. Lorde Strangford, à época embaixador inglês em Portugal, nos dá conta de um acordo secreto, celebrado com a Inglaterra, que previa a fundação de um grande Reino no Brasil, com a anexação da Cisplatina (consigne-se que tal viria a ocorrer, além da invasão da Guiana Francesa). Convém lembrar, finalmente, que uma transladação do porte da ocorrida, não se faz de afogadilho. Aproximadamente 15.000 pessoas embarcaram em 36 naus e fragatas, com valiosíssimo acervo, preciosos bens públicos e privados, suprimentos de toda ordem, etc. Não houve, pois, uma infame deserção e, sim, uma magistral manobra geopolítica muito bem urdida. Relembremos dos principais atos régios na esfera da administração civil e na área militar praticados por Dom João, que viria a ser, como Dom João VI, a augusta figura do 27° Rei de Portugal. Foram eles:
 - a abertura dos portos às nações amigas;
 - a elevação da Colônia - um Vice-Reinado -, a “Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves”;
 - a implantação da Imprensa Régia;
 - a criação do Conselho de Estado, do Banco do Brasil, da Casa da Moeda, da Biblioteca Real, do Museu Real, do Horto Florestal, do Jardim Botânico, etc;
 - a fundação da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, depois Academia de Belas Artes, e da Academia Real de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura Civil;
 - a criação de duas Escolas de Medicina, no RJ  e na BA;
 - a contratação de uma Missão Cultural Francesa e de outras de menor porte, de cunho científico e artístico integradas por nomes consagrados internacionalmente, comoVon Spix, Von Martius, Langsdorf, Lebreton, Montigny, Debret, Rugendas, Saint Hilaire e outros;   
 - o início das atividades das indústrias naval (em especial para fins militares), no RJ e BA, e siderúrgica em MG  e SP;
 - a vinda da Divisão de Voluntários Reais, uma tropa de elite do Exército Português;
 - a criação dos ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Guerra;
 - a instalação da Academia de Marinha e a criação da Academia Real Militar;
 - a criação das Fábricas de Pólvora e de Armas;
 - a criação dos arsenais de Guerra e da Marinha;
 - a padronização de uniformes, armamento e equipamentos para todas as tropas do País, e a criação de diversas Organizações Militares nas Capitanias;
 - a extinção das tropas de 3ª linha – as “ordenanças” – e a reestruturação e reaparelhamento das de 1ª e 2ª linhas. 
Gostaríamos, agora, de registrar as proféticas declarações geoestratégicas de Dom Rodrigo de Souza Coutinho, o Conde de Linhares, primeiro ministro da Guerra de Dom João, e Precursor da Geopolítica brasileira: - Citação: “O Brasil é sem dúvida, a primeira possessão de quantas os europeus estabeleceram fora de seu continente, não pelo que há, atualmente, mas pelo que pode ser no futuro. A feliz posição do Brasil dá a seus possuidores uma  tal superioridade de forças, pelo aumento da povoação que se alimenta dos seus produtos e facilidade do comércio, que, sem grandes erros políticos, jamais os vizinhos do Norte e do Sul lhes poderão ser fatais” –Fim da Citação.
Impende lembrar que a permanência joanina, de doze anos no Brasil, redundou no que Sílvio Romero cognominou de a “Reversão Brasileira”, ou seja, com a vinda da Corte e, além disso, do Estado português para o Brasil, a Metrópole passou as ser “Colônia da Colônia”. O período joanino, outrossim, nos legou a fantástica unidade territorial e linguística e a consolidação da nacionalidade brasileira. Não apenas por isso, Dom João é tido, com justa razão, como o “Consolidador da Unidade Nacional” e não o personagem grotesco como “malditos sejam” o retratam. Ele possuía uma mente assaz lúcida e, o principal, era senhor de excepcional visão prospectiva, digna dos melhores estadistas. O Príncipe amava o Brasil e sabia, com coragem e determinação, tomar sérias decisões. E lembremos de que a nossa nacionalidade, consolidada por Dom João VI, é de extração essencialmente lusitana; ela provém do vetusto Portugal, um dos Estados mais antigos da Europa, de historial multissecular; ela provém de Viriato, da velha Lusitânia; de Dom Afonso Henriques, o Fundador da Monarquia portuguesa; do Condestável Dom Nuno Álvares Pereira (hoje, São Nuno Álvares Pereira, o herói da batalha de Aljubarrota); do Infante Dom Henrique, o “Navegador”, e de sua Escola de Sagres; do Almirante Pedro Álvares Cabral e de seus monges-soldados; ela provém das glórias pretéritas do Exército Português que ostenta e se ufana do seguinte apotegma: “Somos o Exército daqueles em quem poder não teve a morte, que por vencidos jamais se conheceram e cuja fama se perde distante no silêncio de tempos remotos”; ela provém do poeta-soldado Luiz Vaz de Camões e de tantos outros insignes personagens históricos como, repita-se, Dom João VI, que muito bem souberam cumprir Portugal. A nacionalidade brasileira não provém das tabas indígenas nem das cubatas africanas ou tampouco de outras etnias que, inegavelmente, também muito contribuíram para tal. Somos uma raça cósmica, mistura de todas as raças, sem predomínio de nenhuma delas, fruto do luso-tropicalismo, na afirmação do saudoso Gilberto Freyre que, acrescente-se como corolário, soube enaltecer como ninguém, o altivo, glorioso e invicto Exército de Caxias, o qual, em seu dizer, “é a mais lídima e representativa das Instituições nacionais: o verdadeiro índice do povo brasileiro”.

É disso que devemos nos recordar com ufania, sendo certo que Dom João, um dos pró-homens de nossa História, pavimentou o caminho para que seu filho, o Príncipe Dom Pedro, proclamasse a Independência do Brasil. Seria despiciendo, um mero exercício de tautologia, recordarmos dos principais fatos que culminaram com o 7 de setembro de 1822. E nos ensina Capistrano de Abreu que o retorno imposto a Dom João, pelas Cortes portuguesas, em 1821, pode-se caracterizar como a “independência de Portugal” em relação ao Brasil.

Por último, na relembrança de nossa completa Independência, não podemos deixar de anotar o 7 de abril de 1831, quando o sentimento de exacerbado nacionalismo fez com que Dom Pedro I, premido pelas forças vivas da Nação (o Exército Nacional à frente), abdicasse do Trono em nome de seu filho, o futuro Dom Pedro II, então com cinco anos de idade, e embarcasse para Portugal. É que Dom Pedro estava se tornando cada vez mais impopular ao povo brasileiro, máxime após 1826, quando faleceu Dom João VI, o qual, por testamento, deixara o Trono de Portugal para o Imperador do Brasil. Dom Pedro se empolgou com a decisão paterna, e, como Dom Pedro IV, de Portugal, nomeou uma Regência para representá-lo em sua terra natal e concedeu uma Constituição à nação portuguesa. Tais atitudes muito abespinharam os brasileiros, o que fez com que Dom Pedro recuasse e abdicasse do trono português, em nome de sua filha mais velha, Dona Maria da Glória. Mas os conflitos entre portugueses e brasileiros se agudizaram e se transformaram em conflitos de rua, no Rio de Janeiro. À volta de Dom Pedro I, de Minas Gerais, em março de 1831, ocasião em que o Soberano lá observou uma atmosfera de desconfiança quanto à sua pessoa, devida à frieza das recepções, os portugueses o receberam no Rio, provocativamente, com grandes festejos e manifestações de alegria, acendendo luminárias à sua passagem pelas ruas, o que resultou no conflito conhecido como “A Noite das Garrafadas” (na realidade, os graves distúrbios entre brasileiros e portugueses ocorreram nos dias 12, 13 e 14 de março de 1831). Dom Pedro nomeou um ministério, em 5 de abril, composto quase que exclusivamente de senadores de sua inteira confiança, mas francamente antipopulares. O povo e as tropas sublevadas se insurgiram, exigindo a volta do ministério anterior ao de 5 de abril. O Imperador, não querendo ceder às exigências brasileiras, resolveu abdicar em 7 de abril, em favor de seu filho menor, Pedro de Alcântara, e embarcou para Portugal, deixando José Bonifácio, como tutor de seus filhos.

O forte sentimento de brasilidade, que imperou em 1831, deveria servir de “leit motiv” para as gerações posteriores!
Já nos prelecionava Coelho Neto, em seus “Mandamentos Cívicos”: “Ama a terra em que nasceste e à qual reverterás na morte. O que por ela fizeres, por ti mesmo farás, que és terra e tua memória viverá na gratidão dos que te sucederem”.
Nada é mais importante para a grandeza de um País do que o Patriotismo, valor-maior que deveria ser por demais cultivado!
Filgueiras Lima, exponencial vate da Ilustração Cearense, indignava-se contra a carência de patriotismo, nessas estrofes de seu poema “Brasil dos meus Avós”:

  “Brasil dos meus avós, acorda!
  Vem trazer-nos o ardor que rugia e cantava
  No peito de teus filhos de outras eras
  De Caxias, Osório, Sampaio e Tiradentes.
  Dos heróis de Itororó e Tuiuti,
  Que rolaram no pó, rubros de sangue,
 Com o coração e o pensamento em ti!

  Brasil dos meus avós,
  Ressurge, dentro de nós, nesta hora extrema!
  Inspira-nos um cântico marcial e romântico
  Que seja como a nova Marselhesa  
  Da Pátria de Peri e de Iracema.
  Faze que cada brasileiro, neste instante,
  Lembre o velho cocar, o vetusto diadema
  A tremular, medievalescamente,
  Na fronte heril dos teus guerreiros selvagens
  Guerreiros mais humanos e sensíveis do que os homens maus do Velho Mundo
  Que, irrompendo do céu ou do fundo do mar,
  Matam mulheres, velhos, paralíticos,
  Tão só pelo desejo infame de matar...

  Brasil dos meus avós
  Dá-nos aquela mesma galhardia
  Dos teus veros heróis das matas virgens,
  Que marcavam a hora dos recontros bélicos
  À plena luz do dia
  E cumpriam a palavra dada
  Como coisa sagrada
  Sem dissimulação nem covardia...

  Brasil dos meus avós
  Eu bem o sinto!
  Estás dentro de nós, Brasil de meus avós!
  Sincero, puro, másculo, viril
  Tu que és o Brasil de hoje e de sempre,
  O imortal Brasil!

O Brasil, nossa Pátria, com pouco mais de quinhentos anos de História, é um País singular, em especial por suas incomensuráveis potencialidades e população, esta preponderantemente generosa, alegre, acolhedora de povos das mais variadas origens. Todos esses povos aqui se miscigenaram e formaram, nunca é demais repetir, uma raça cósmica, uma meta-raça, sem predominância de nenhuma delas, forjando o Homem Brasileiro, do qual devemos sempre e sempre nos orgulhar. A nossa gente é essa mistura de raças, religiões e costumes, sem qualquer distinção; é a heterogeneidade que, entretanto se torna una, coesa, monolítica, indivisível, nas ocasiões em que se ouve o Hino Nacional, ao se contemplar a Bandeira a drapejar nos mastros, ou quando das festividades desportivas, solenidades cívico-patrióticas, etc.

Em verdade, já dizia o poeta popular Djalma Andrade, em “Brasil Atrapalhado”:

  A gente fala, protesta, 
  Nesta terra nada presta.
  O povo é lerdo, indolente...
  É a farra, ninguém trabalha,
  A peste, a pátria amortalha
  Sob o sol rude, inclemente...

  A lei é mito, pilhéria...
  Ninguém liga a coisa séria
  Não há remédio, é da raça.
  A vida se desbarata
  O pinho, a cuíca, a mulata,
  O amarelão, a cachaça...

  A gente murmura, fala
  Velhos defeitos propala
  Em língua rude e vil
  É a pior terra do mundo
  Mas no fundo, no fundo,
  Quanto amor pelo Brasil!

  Tudo da boca pra fora!
  Porque cá dentro ele mora
  Cá dentro é que gente o sente
  Meu Brasil atrapalhado,
  Meu Brasil confuso e errado
  Você vê que o povo mente.

  Você vê que a gente grita
  Mas vê também que é infinita
  Esta paixão por você...
  Se a Bandeira levanta,
  Lá vem o nó na garganta,
  E você sabe por quê...

  Você sabe e não se importa
  A nossa injúria suporta
  E o nosso labéu também...
  Deixe que xingue, que bata
  A gente fere e maltrata,
  Quase sempre, a quem quer bem.

  Meu Brasil, aqui baixinho,
  Ouça, sou todo carinho,
  e a minha alma você vê...
  Qualquer perigo que corra,
  Se for preciso que eu morra,
  Eu morrerei por você...

O Brasil é essa vastidão de dimensões continentais. É a “Nação do Sol”, e o "Império das Águas", no dizer do escritor Dr Rui Nogueira, onde vamos encontrar, em abundância, a trilogia para a existência da vida: ar, água e sol. Assim, em se sabendo aproveitar esses elementos da natureza, teremos de sobra, como ninguém, a Energia, que tudo move no Universo! O exemplo maior é a nossa Amazônia. Ela agrega uma população mestiça com variados estoques de etnias indígenas, ainda muito pobre e desassistida. Ela possui, em sua biodiversidade, o maior e mais rico banco genético do planeta; detém o maior potencial de água potável do mundo, em seus grandes rios, todos navegáveis por navios de qualquer calado, formando um verdadeiro “Mare Nostrum brasileiro”! As maiores jazidas de minérios raros, de terceira geração, ocorrem de forma abundante na imensa região, que ainda possui uma superlativa posição geoestratégica, por ser totalmente cortada pela linha do Equador, o que muito propicia e facilita o lançamento de artefatos aeroespaciais, como sondas, mísseis, foguetes, satélites e até naves espaciais, sendo o Centro de Lançamentos de Alcântara, no Maranhão (aliás, localizado na “Amazônia Legal Brasileira” e que deve permanecer, unicamente, sob jurisdição nossa), o melhor dentre todos os existentes. Daí a imperiosa necessidade de nossa firme determinação em tudo fazer para a ocupação, defesa e guarda daquela cobiçada terra brasileira, cuja soberania nos cabe preservar, missão que as gloriosas Forças Armadas vêm cumprindo, com muito denodo e patriotismo, desde nossa proto-história. “Árdua é a missão de desenvolver e defender a Amazônia. Muito mais difícil, porém, foi a de nossos antepassados de conquistá-la e mantê-la”, nos ensinava o General Rodrigo Octávio Jordão Ramos.
A História do Brasil é prenhe de heróis nacionais que não trepidaram em sacrificar a própria vida ou verter o generoso sangue pela honra e soberania nacionais. Entre tantos e tantos, destacaremos apenas dois: Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes - Patrono Cívico da Nação brasileira e Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias - Patrono do Exército Brasileiro e “O Pacificador”, ambos instituídos “Heróis Nacionais”, cujos augustos nomes estão inscritos no “Livro de Aço” existente no Panteão da Pátria, em Brasília.
Na história-pátria é providencial o homem que pode orientá-la sem lhe sacrificar a moralidade, guiando-a com sabedoria, sem a iludir, sem a inquietar, sem a empobrecer. Providencial é o herói sem injustiça, o legislador sem ambição, o chefe sem egoísmo, o político sem paixão, ou antes, impelido pela única paixão compatível com os deveres cívicos, que é a sagrada paixão do Bem-Comum. Assim, por certo, tornar-se-ia realidade o sonho de Gilberto Freyre:

  “Eu ouço as vozes, eu vejo as cores.
  Eu sinto os passos de outro Brasil que vem aí.
  Mais tropical, mais fraternal, mais brasileiro.
  O mapa desse Brasil, em vez das cores dos Estados,
  Terá as cores das produções e dos trabalhos.
  Os homens desse Brasil, em vez das cores das três raças,
  Terão as cores das profissões e regiões.
  As mulheres do Brasil, em vez das cores boreais, 
  Terão as cores variamente tropicais.
  Todo brasileiro poderá dizer:
  É assim que eu quero o Brasil!”

Que no permanente culto da bela e rica História Nacional e de seus heróis, estejamos sempre prontos a contribuir de maneira efetiva e especialmente patriótica, para o engrandecimento de nosso amado Brasil!
Destarte, exaltar o civismo, glorificando os que mais lidaram por encher os anais da Pátria de cintilações astrais é dever precípuo de todo povo que aspira a se fazer merecedor da reverência e da admiração do mundo. Sim, pois quando um povo entra a esquecer, nos prazeres fugacíssimos da vida, dos vultos mais salientes, dos feitos marcantes de sua História, daqueles que mais se sublinharam pelo saber, pela santidade, pelo heroísmo ou pelo martírio, ninguém deve maravilhar-se de vê-lo, um dia, desagregado, desvirilizado, desacreditado e, ainda por maior desdita, escravizado pelos outros povos. É a lição triste da História, “a mestra da vida”, “a mestra das mestras”...
Mas é tempo de concluir.
Por derradeiro, gostaríamos de repetir as palavras dos centuriões romanos às suas tropas, antes das batalhas: “Ad Sumus! Sursum Corda”! “Aqui estamos! Corações ao Alto”!
Sim, nesta hora solene de reverência à Pátria, Corações ao Alto por este fraternal cenáculo de nossa Academia de Letras e Artes do Planalto! Corações ao Alto por nosso acendrado sentimento cívico! Corações ao Alto por nosso estremecido Brasil!

E como dizia Olavo Bilac:

  “Ama, com fé e orgulho,
   A Terra em que nasceste.
   Criança, 
   Não verás nenhum País como este!"

   "Ex corde", o meu muito, muitíssimo obrigado! Eu disse.

Manoel Soriano Neto (Cel - Abreviatura de Coronel no Brasil; Cor. - Abreviatura em Portugal)

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

SUBMARINO ALEMÃO AFUNDADO PELA TRIPULAÇÃO PERTO DA CIDADE DO PORTO

Na Praia de Lavra, concelho de Matosinhos

Submarino alemão afundado pela própria tripulação uns dias após a assinatura do fim da II Guerra Mundial, simulando previamente uma avaria, para evitar de regressar à base entretanto ocupada pelos soviéticos e também que ele caísse nas mãos dos Aliados, optando pelo seu afundamento em águas portuguesas, pois Portugal era país neutro nessa contenda apocalítica. 
Os tripulantes entregaram-se no Posto da Polícia Marítima de Angeiras, foram detidos no Forte de São João da Foz no Porto e entregues posteriormente aos ingleses.




quarta-feira, 16 de julho de 2014

FARDA OU FARDO? - AQUÉM E ALÉM-MAR EM ÁFRICA

Lançamento do Livro FARDA OU FARDO? - Aquém e Além-Mar Em África foi feito em 12 de julho passado, na Casa da Beira Alta, Rua de Santa Catarina, no Porto, pelas 17:30, conforme Convite anteriormente distribuído, acompanhado da respetiva Sinopse. Seguiu-se um Porto de Honra.



SINOPSE

 FARDA OU FARDO? – Aquém e Além-Mar Em África é um livro que procura retratar a ambiência da então Guerra do Ultramar, das emoções que os militares e seus familiares mais diretos vivenciaram, tentando colocar o leitor no lugar do então jovem militar logo que sabia estar mobilizado, acompanhando todo o seu trajeto: ainda na Metrópole,  na viagem de ida, em terras africanas e no seu regresso ao seio familiar - já completamente alterado na sua personalidade.
Transparece uma tentativa do Autor se abster de citações de combate propriamente dito, não só por se tratar de tema já sobejamente abordado em múltiplas publicações editadas por outros Combatentes, mas, principalmente, por ser sua preocupação focalizar-se no Homem, na sua interligação pessoal – relacionamento de plena camaradagem – e no seu posicionamento perante a ansiedade, o perigo, o stress, o cansaço, o desespero, a fome, a sede, a impotência perante o irremediável, o infindável cortejo emocional que emerge de cada circunstância diferenciada, inclusive nos momentos de alegria.

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PREFÁCIO

O Preço do Fardo

Manaíra Aires Athayde
Centro de Literatura Portuguesa
Universidade de Coimbra

Palavra, um homem tem que ser
prodigioso.
Porque é arriscado ser-se um homem.
É tão difícil, é
(com a precariedade de todos os nomes)
o começo apenas.
(Fernando Assis Pacheco)

Certa vez li que «Cada ser humano é um afluente da longa memória do mundo». Esta passagem veio-me em pensamento várias vezes ao longo da leitura que fazia de Farda ou Fardo?. Tentei refletir a razão pela qual era essa a frase insistente em minha mente, tentando inclusive lembrar de onde vinha a tal citação. Passados alguns dias, recordei-me.
A Guerra como Experiência Interior. Não é apenas o título do livro de Ernst Junger onde a tal frase está, mas é um mote importante para pensar a obra de Carlos Jorge Mota. Afinal, mais do que da guerra, Farda ou Fardo? trata da memória. A memória que é a experiência interior e o testemunho singulares em sua capacidade de transformação sob o relato da comunhão, do sentimento de unidade nos homens quando têm uma vivência do perigo comungada. Farda ou Fardo?, afinal, trata não só do sofrimento e dos ruídos de combate retumbados naquela guerra que já avançava em oito anos quando o Batalhão de Caçadores 2872 foi destinado a Angola, em Maio de 1969. É um livro que também circunscreve os ruídos que tantas vezes ecoam na alegria e na tragédia da muito frágil condição humana.
Aliás, esta obra, mais do que a exposição da fragilidade da existência, para mais num contexto bélico, fala sobretudo da condição humana. Está lá a despedida do pai que, enfermo, não voltaria a ver o filho combatente; as mulheres que, aquém-mar, prontificaram-se a ser um sustentáculo emocional para os que partiram para a guerra; a luta pela sobrevivência acompanhada da aprendizagem com a savana e a selva, e com a selva humana. Quer dizer, lá está a História contada em metonímica, numa escrita precisa e muito próxima do documental, estruturada em capítulos curtos que prezam pela informação exata e pela contextualização, com a capacidade em absoluto de domínio do relato.
Relato que nos traz uma outra importante memória de leitura: a África. O poder de unidade que o significante África evoca sobrepõe às naturezas individuais dos seus países. Na memória do combatente não descobrimos só Angola. Nela está a África, com todas as transformações idiossincrásicas que podemos resgatar das descrições de estrangeiros que vivenciaram o território africano. «Quando se apanha o ritmo de África descobre-se que este é sempre o mesmo em toda a música deste continente», escreve Karen Blixen no famoso África Minha.
A adaptação em África implica reconhecer que a natureza humana é regida pela mesma natureza extrínseca ao homem, que nessas circunstâncias tem que se voltar para os sons, os cheiros, os tons que delineiam o contacto entre povo e habitat. A adaptação requer agir de acordo com o vento, com as cores e odores da paisagem. É necessário adaptar-se ao ritmo do conjunto. A África, de facto, vivifica vastamente a experiência do coletivo.
Pois certo é que, embora Farda ou Fardo? esteja sob um registo muito mais próximo do documental-historiográfico do que da ficção, por toda a narrativa podemos perceber que se engendra a «experiência de África». A própria riqueza de detalhes com que o autor descreve as suas vivências já revela a intensidade com que elas persistem em sua memória. Quem viveu esse espaço de familiarização com a África não deixa de viver, nesse sentido, um espaço de transiência, em que a fugacidade do tempo é pressuposta pela intensidade das experiências vividas. Porquanto dois anos em Angola na (hoje denominada) Guerra Colonial muda uma vida inteira.
Uma vida inteira em que a farda de outrora, e o sentimento de se estar a serviço da nação amalgamado ao «nojo» que é a guerra, como descreve Mota, vai se tornando um fardo. E se o fardo é um «conjunto de coisas comprimidas e devidamente atadas», como nos diz o dicionário, pelo que é difícil de se suportar e que se sente como um peso, ao mesmo tempo exige cuidados e grande responsabilidade, como a de escrever este livro passados 45 anos da ida para a guerra. Missão de escrita, aliás, que não parece ser uma tentativa de se livrar do fardo que por décadas persiste, e sim de partilhá-lo, não propriamente intentando diminuí-lo, mas procurando conhecê-lo, reconhecê-lo pelos sulcos do tempo. Procurando avaliar, chamando às memórias, o preço do fardamento, que certamente custou muito mais do que os quatro contos que cada miliciano teve que pagar ao Exército pela farda que vestia. 
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                                                                                      Manaíra Aires Athayde apresentando o Livro 
                                                                                                  I
          
                                                                                              II

                                                                                                        O Autor no uso da palavra
        
                                                                                                I

                                                                                 
                                                                                              II


                                                                                                   Intervenções do Auditório
                                                                                                 I

                                                                                            II (Freitas e Sérgio)

                                                                                        III (José Gualberto)

Depoimento dum Camarada de Armas presente na Apresentação do Livro - Jaime Froufe Andrade - postado por si no seu Mural do Facebook e compartilhado inúmeras vezes por outras pessoas:

Jaime Froufe Andrade partilhou um estado.
A farda ou o fardo?

Acaba de surgir mais um livro sobre a nossa guerra em África escrito por quem lá esteve, no caso Carlos Jorge Mota.

«Farda ou Fardo? Aquém e Além-Mar em África", é o título, epígrafe que de algum modo anuncia caminho pouco habitual, raro mesmo, por se afastar do roteiro clássico da crueza do combate, da espectacularidade das acções militares e preferencialmente apostar em terrenos mais férteis por serem muito menos cultivados.

O caminho destas narrativas, de escrita fácil e desenvencilhada, é todo o percurso interior do jovem miliciano antes de ser "mobilizado" para a guerra, depois de o ser, já em África e de novo em Portugal, agora em tentativas sucessivas de interpretação de si próprio, diferente que se vê pela acção da guerra.

Tratando-se naturalmente de experiências pessoais, por isso mesmo irreplicáveis, o autor, no acto do lançamento do livro, foi o primeiro a reconhecer que esse mapa onde cartografou a sua geografia interior é certamente idêntico em muitos dos seus contornos aos de milhares e milhares de outros jovens que passaram pelo mesmo tipo de realidade. Vítimas do mesmo magma circunstancial, serão esses os primeiros a entender o que se passa no livro.

Importante seria que os jovens de hoje acabem também por se interessar por esse período difícil da nossa História recente e assim poderem perceber de onde vieram e em que condições chegaram aos dias de hoje os seus pais, mães, e avós. A chamada "falha geracional" existe e tem custos muito altos com reflexos na coesão e na solidariedade entre gerações.

Como todos teremos, certamente, consciência, Portugal está em risco de desaparecer enquanto entidade individualizada, com perfil cultural e histórico distinto. A forma como se vai apagando, pelo esquecimento e pela indiferença aquilo que na história recente de mau e de bom fizemos enquanto Povo autónomo e dono do seu destino, está a empurrar-nos para essa já quase instalada não-existência.

É nessa perspectiva de luta contra o relógio que se inscreve a importância das obras que falando sobre o nosso passado colectivo nos apuram o estado de consciência, nos devolvem o orgulho de sermos portugueses, e nos servem de âncora para travar o processo da nossa não-existência.

Bom exemplo foi a sessão de lançamento de "Farda ou Fardo? Aquém e Além-Mar em África": o calor estival, a praia, a piscina e a esplanada não foram razões dissolventes. Não chegaram os lugares sentados do salão da Casa da Beira Alta, no Porto. Eu vi porque estava lá também.
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Outro depoimento feito por um outro Camarada de Armas, também lá presente, postado por si no seu Mural do Facebook e compartilhado posteriormente:

Arnaldo Norton partilhou a foto de Arnaldo Norton.
" FARDA OU FARDO ? "
No passado sábado, aconteceu o lançamento do livro "Farda ou Fardo ?- Aquém e Além-Mar em África " da autoria de Carlos Jorge Mota, um dos administradores desta página (Por Ti Língua Portuguesa). É uma obra muito interessante que aborda o fenómeno da Guerra do Ultramar de forma diferente da habitual e nos transporta para diferentes caminhos. Os meus parabéns ao autor !

quarta-feira, 9 de julho de 2014

RUY BELO - HOMENAGEM MERECIDA - Era Uma Vez

Ruy Belo, Era uma Vez
Género: Filme Documentário
Duração: 55’
Sinopse: Filme documentário sobre a obra e  a  vida do poeta
Ruy  Belo.  Depoimentos,  conversas,  leituras  e  locais  que 
muito contribuíram e inspiraram a sua vasta produção. 
De São  João da Ribeira, onde nasceu, até Paris,  para ouvir 
Chico Buarque a ler dois poemas, passando ainda por Madrid,
onde o poeta foi leitor de português, o filme reúne pessoas 
que  conviveram  com  Ruy  Belo,  que  com  ele  vivenciaram
intensas amizades e partilharam a paixão pela arte. 
Também  quem  o  lê,  interpreta  e  estuda  nos  ajuda  a 
compreender e a ir ao encontro de um dos maiores poetas da
segunda metade do século XX. O nosso poeta URGENTE.
Ficha Técnica
Produção: ZulFilmes
Produtor: Fernando Centeio
Ideia Original: Nuno Costa Santos
Realização: Fernando Centeio| Nuno Costa Santos
Montagem Final: Paulo MilHomens
Pesquisa: Manaíra Athayde
Imagem: Pedro Loureiro
Som: Alexandre Gonçalves
Música Original: Rui Pereira Jorge
Grafismo: Aurélio Vasques
Correcção de cor: Francisco Costa
Zulfilmes | Rua Nova da Trindade, 1 – 2ºDto 1200-301 Lisboa |NIPC 509320627
Telefone: 213 466 427 | email : geral@zulfilmes.com | site www.zulfilmes.com


                                                                         Casa cheia, emoção forte. Rico evento muito enriquecedor.
                                            Parabéns aos organizadores. Parabéns à família, principalmente à Teresa Belo.






terça-feira, 1 de julho de 2014

TAMERA - PROJETO-PILOTO PARA VIVÊNCIA HUMANISTA E TOTALMENTE VERDE

Um Paraíso em Portugal, mas que o negócio do Petróleo desincentiva a divulgar ...

Tamera, aldeia no Concelho de Odemira, Alentejo, foi formada para a constituição dum Projeto-Piloto atinente a um vivência de concórdia, de humanismo, de contacto com a mãe-natura.
Como esta iniciativa poderá atingir alguns interesses instalados, esperemos que a UE, ou o Governo, seu "mandatário", não venha a colocar entraves e mais entraves: 



A Paisagem de retenção aquática:
                                                                            


segunda-feira, 30 de junho de 2014

ESCREVER - Emanuel Medeiros Vieira

(ESCREVER) 
          POR QUE ESCREVEMOS?
            EMANUEL MEDEIROS VIEIRA*
Começamos escrevendo para viver e acabamos escrevendo para não morrer.
Para quem edifica palavras mal rompe a aurora, escrever é inadiável e urgente, mesmo que nada externamente nos obrigue a isso. Mas a necessidade interna é visceral,  orgânica, chama e fogo, flecha, algo colado à pele.
Não conseguimos escapar desse apelo.
Escrevemos para perdurar, para vencer a poeira do tempo, para despistar a morte, para regar nossos fantasmas e (por que não?), para amar e se amado.
A literatura é o refúgio da sinceridade num mundo de pose.
A literatura é um apelo de fogo, onde mora meu desespero, a minha inquietação e o meu paraíso”, escreveu alguém.
Eu sei: tento escrever um hino de amor à palavra.
Qual a maior viagem (interior) que podemos fazer, senão aquela que é um mergulho no livro, nesta criação de outros mundos, nessa peregrinação às áfricas interiores?
“Se o mundo dos objetos palpáveis e vida prática, não é mais real que o mundo das ficções, dos sonhos e dos labirintos, então pode ser que o autor de artifícios verbais tenha mais direito à condição de demiurgo que qualquer outro candidato”, escreveu Samuel Titan Jr., falando sobre Borges..

Hoje, a realidade chamada virtual fica sendo mais importante que o humano propriamente dito.
Uma personalidade não aparece porque é boa, mas é boa porque aparece.
Vivemos uma mudança de época e não uma época de mudanças.
Ou está inapelavelmente decretado que não há nada mais a fazer, que o destino já rabiscou todos os destinos?
Queremos um modelo de consumidores ou de cidadãos?
Aceita-se passivamente um mundo onde são as coisas que comandam e não os valores.
Queremos pessoas abúlicas, inertes, numa globalização onde impera a uniformidade e não a igualdade?

A literatura é um sonho do eterno. Sua  morte tem sido decretada diariamente.
Mas por que ela continua tão viva?
Pois há dentro do homem uma sede de infinito que nenhum modelo meramente mercantil pode saciar.
*Emanuel Medeiros Vieira é escritor
Seu romance “Olhos Azuis – Ao Sul do Efêmero”(Thesaurus Editora/FAC, Brasília, 2009), recebeu o Prêmio Internacional de Literatura, promovido pela União Brasileira de Escritores – UBE, em 2010.
Foi contemplado com o respeitado “Prêmio Lúcio Cardoso” para o melhor romance – na avaliação da entidade – publicado no Brasil em 2009.