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domingo, 30 de junho de 2019

RELEVÂNCIA DA PÁSCOA

RELEVÂNCIA DA PÁSCOA

O Cristianismo é uma ideia que sai dos limites dos dogmas estabelecidos pelas igrejas que o adotam.
Poucos são os hierarcas e fiéis que têm a consciência das reais dimensões da mensagem cristã.
“A Encarnação em Cristo, para muitos pensadores, é a assunção da grandeza do homem enquanto homem”.
Na interpretação dos humanistas, o jovem Cristo foi um dos muitos judeus daquele tempo, que, inquietos com a situação política de seu povo, procuravam uma saída para a liberdade.
A Palestina estava sob domínio do Império romano e era tempo de Tibério, representado por Pilatos. O território se dividia em cinco pequenos reinos, depois da morte de Herodes.
Como analisou alguém, como outros fundadores de religiões, a ele se atribui origem divina, correspondendo à necessidade humana de lidar com a finitude, o desaparecimento e a Morte.
“Era necessária a reafirmação da antiga aliança, com a Encarnação, a renovação da promessa mediante um homem de carne e osso, enviado do Absoluto, para pregar o amor – ou seja, a solidariedade essencial entre os homens como pressuposto de sua salvação”.
Sim: Ele é tanto mais o filho de Deus quanto é amigo e irmão de todos os homens.
“O irmão e o amigo a que recorremos, nos rincões de nossa alma, onde se recolhe o sofrimento, porque n’Ele – que é parte de nós mesmos – podemos confessar as humilhações sofridas, o nosso desespero, a nossa desesperança do futuro, o nosso desamor para com o próximo, e contar com o seu consolo e perdão”, como analisa sabiamente Mauro Santayana.
Isso não absolve os erros da Igreja desde Constantino.
Mas Cristo é maior que a Igreja.,
Páscoa é Ressurreição.
Cristo está além dos super-mercados da fé, que usam o seu nome para ludibriar e enganar os carentes, os humilhados e ofendidos deste mundo.
A teologia deve ser da esperança, e não da mera prosperidade material. Importa agora é o Cristo reconciliado com nós mesmos, e não o mau uso do seu nome por impérios religiosos que usam o se nome, arrecadando bilhões. “Nós podemos contar com Cristo, em qualquer capelinha de estrada, em todos os corações que sofrem”.
Insisto – não esqueçamos: Páscoa é Ressurreição, e nessa capelinha de estrada nos mostramos como nós somos, sem subterfúgios, sem dissimulações, sem hipocrisias.
Nus e desamparados- – em busca da verdade.

EMANUEL MEDEIROS VIEIRA

terça-feira, 18 de junho de 2019

EU NUNCA SOUBE...



EU NUNCA SOUBE... 

Eu nunca soube se seus cabelos eram oxigenados ou naturais.

No fundo, ela sempre quis uma casa.

Uma porta aberta, um vaso com flores, gentes, quintal, uma família.

Repito: uma família.

Cadeira de balanço, panelas no fogo, chaleira fervendo, samambaiais, um cachorro barato e quase cego – “tolerado pela gerência”, como no pungente verso de Fernando Pessoa –, dormindo no varandão.

Júlia, às vezes quieta e grave; ou sorrindo intensamente.
Rindo e chorando.
Tinha um jeito de quem iria sorver a vida breve de todas as maneiras.

Aqueles blue eyes. Tão belos!
Ela com um metro e oitenta de altura – ou mais? –, quase loira.
Júlia que ficava belamente queimada quando ia pegar sol na Lagoinha da Ponta das Canas, na Ilha de Santa Catarina ou em Santa Cruz Cabrália – onde começou o Brasil ou no Parque da Cidade, em Brasília.

Te amei.
Não te vejo mais, Júlia.
Não mais te verei.

Deixaste este mundo – que nunca entendeste – aos 30 anos. Ou menos, guria.
Sempre indagam: morreu de quê? Não importa. Leiam Camus. (santo de minha devocção...)
Quantos anos? Trinta? Talvez menos. Pouco Mais de um quarto de século de vida, e ela parecia ter vivido uma eternidade.

Não repara: eu também nunca entendi (esse insensato mundo).
E, insisto, nunca soube se teu cabelo era oxigenado ou natural.
Mas visito – todos os sábados – o marco branco de tua rota peregrina – com um ramalhete de flores (com jasmins que sempre amaste).
É aqui perto de casa. O Campo – dizem – é da Esperança.

Me espera, Júlia, Não demoro muito.

EMANUEL MEDEIROS VIEIRA

terça-feira, 11 de junho de 2019

LEMBRANDO PRESTES Agildo Barata estava numa cela com Luiz Carlos Prestes, em 1945. Notou um opúsculo de capa verde. Na capa: “Pensamentos de Augusto Comte”. No interior: aforismas estóicos, que Prestes traduzia do grego para passar o tempo. E dizia que como a capa era de Comte, os milicos não iriam tomá-la. Conclusão de Barata: quando penso em Prestes, penso sempre num livro de máximas estóicas e de capa positivista. “Que sacada, hein”, interpreta o meu velho amigo Flávio Aguiar (desde 1962, no Colégio Anchieta, em Porto Alegre), , e que agora vive em Berlim. Essa cidade sempre me emociona, pois lá varei noites conversando com Luiz Travassos, tomando todo o vinho alemão existente, a gente caminhando até perto do Muro. Ele lá exilado. Eu fugido da “ditabranda”, segundo a Folha. Voltando ao líder comunista: quando penso em Prestes penso mais num pensamento granítico e positivista de um homem íntegro, profundamente digno (às vezes equivocado, mas nunca desonroso). Por exemplo: sua aliança (“Constituinte com Getúlio”) com Vargas (que o deixaria muitos anos preso nas mãos do perverso Filinto Miller) foi um erro ou uma necessidade naquele momento, em função de um projeto político maior? Em termos éticos não se justifica. Foi Filinto quem entregou Olga, a mulher de Prestes, para a Gestapo. Prestes era mais positivista que comunista. Estou equivocado? David Nasser escreveu um livro chamado “Falta Alguém em Nuremberg”. Esse alguém era Filinto “carrasco” Miller, que foi presidente da ARENA, o “maior partido do Ocidente”, segundo o inesquecível Francelino Pereira. Francelino foi quem fez a nunca respondida indagação: “Que país é esse?” Lembrando: a polícia política do Estado Novo (1937-1945), chefiada por Filinto Miller, arrancou com torquês um dente de Carlos Marighella. Marighella, segundo o juízo insuspeito de Jarbas Passarinho (que fez a célebre proclamação no dia da promulgação do AI-5, 13 de dezembro de 1968: “às favas com os escrúpulos, senhor presidente”), teria sido o homem mais corajoso que existiu no Brasil no enfrentamento da tortura.

LEMBRANDO PRESTES

Agildo Barata estava numa cela com Luiz Carlos Prestes, em 1945. Notou um opúsculo de capa verde. Na capa: “Pensamentos de Augusto Comte”. No interior: aforismas estóicos, que Prestes traduzia do grego para passar o tempo. E dizia que como a capa 
era de Comte, os milicos não iriam tomá-la.
Conclusão de Barata: quando penso em Prestes, penso sempre num livro de máximas estóicas e de capa positivista.
“Que sacada, hein”, interpreta o meu  velho amigo Flávio Aguiar (desde 1962, no Colégio Anchieta, em Porto Alegre), , e que agora vive em Berlim.
Essa cidade sempre me  emociona, pois lá varei noites conversando com Luiz Travassos, tomando todo o vinho alemão existente,  a gente caminhando até perto do Muro.
Ele lá exilado. Eu fugido da “ditabranda”, segundo a  Folha.
Voltando ao líder comunista: quando penso em Prestes penso mais num pensamento granítico e positivista de um homem íntegro, profundamente digno (às vezes equivocado, mas nunca desonroso).
Por exemplo: sua aliança (“Constituinte com Getúlio”) com  Vargas (que o deixaria muitos anos preso nas mãos do perverso Filinto Miller) foi um erro ou uma necessidade naquele momento, em função de um projeto político maior?
Em termos éticos não se justifica. Foi Filinto quem entregou Olga, a mulher de Prestes, para a Gestapo.
Prestes era mais positivista que comunista.  Estou equivocado?
David Nasser escreveu um livro chamado “Falta Alguém em Nuremberg”.
Esse alguém era Filinto “carrasco” Miller, que foi presidente da ARENA, o “maior partido do Ocidente”, segundo o inesquecível Francelino Pereira.
Francelino foi quem fez  a nunca respondida indagação: “Que país é esse?”
Lembrando: a polícia política do Estado Novo (1937-1945), chefiada por Filinto Miller, arrancou com torquês um dente de Carlos Marighella.
Marighella, segundo o juízo insuspeito de Jarbas Passarinho (que fez a célebre proclamação no dia da promulgação do AI-5, 13 de dezembro de 1968: “às favas com os escrúpulos, senhor presidente”), teria sido o homem mais corajoso que existiu no Brasil no enfrentamento da tortura.
   
Agildo Barata estava numa cela com Luiz Carlos Prestes, em 1945. Notou um opúsculo de capa verde. Na capa: “Pensamentos de Augusto Comte”. No interior: aforismas estóicos, que Prestes traduzia do grego para passar o tempo. E dizia que como a capa era de Comte, os milicos não iriam tomá-la.
Conclusão de Barata: quando penso em Prestes, penso sempre num livro de máximas estóicas e de capa positivista.
“Que sacada, hein”, interpreta o meu  velho amigo Flávio Aguiar (desde 1962, no Colégio Anchieta, em Porto Alegre), , e que agora vive em Berlim.
Essa cidade sempre me  emociona, pois lá varei noites conversando com Luiz Travassos, tomando todo o vinho alemão existente,  a gente caminhando até perto do Muro.
Ele lá exilado. Eu fugido da “ditabranda”, segundo a  Folha.
Voltando ao líder comunista: quando penso em Prestes penso mais num pensamento granítico e positivista de um homem íntegro, profundamente digno (às vezes equivocado, mas nunca desonroso).
Por exemplo: sua aliança (“Constituinte com Getúlio”) com  Vargas (que o deixaria muitos anos preso nas mãos do perverso Filinto Miller) foi um erro ou uma necessidade naquele momento, em função de um projeto político maior?
Em termos éticos não se justifica. Foi Filinto quem entregou Olga, a mulher de Prestes, para a Gestapo.
Prestes era mais positivista que comunista.  Estou equivocado?
David Nasser escreveu um livro chamado “Falta Alguém em Nuremberg”.
Esse alguém era Filinto “carrasco” Miller, que foi presidente da ARENA, o “maior partido do Ocidente”, segundo o inesquecível Francelino Pereira.
Francelino foi quem fez  a nunca respondida indagação: “Que país é esse?”
Lembrando: a polícia política do Estado Novo (1937-1945), chefiada por Filinto Miller, arrancou com torquês um dente de Carlos Marighella.
Marighella, segundo o juízo insuspeito de Jarbas Passarinho (que fez a célebre proclamação no dia da promulgação do AI-5, 13 de dezembro de 1968: “às favas com os escrúpulos, senhor presidente”), teria sido o homem mais corajoso que existiu no Brasil no enfrentamento da tortura.

Emanuel Medeiros Vieira