Assistir à última
partida de alguém próximo, familiar ou amigo, é sempre um momento de grande e espontânea
reflexão, pela instantânea consciência da finitude da vida, que, felizmente,
para auto-defesa, o cérebro atira permanentemente para as calendas do
pensamento.
Ver partir um
Grande Amigo, sabendo mesmo antecipadamente que tal notícia não seria grande
surpresa, face ao prolongado e duro sofrimento psíquico e físico confessados, é
um soco no estômago que coloca o organismo num tal entorpecimento e pensamentos
difusos que impedem o discernimento até ao inevitável enfrentamento da cruel
realidade.
Pois, o Emanuel
partiu em de 29 de Julho passado, por mera coincidência exactamente no dia que
minha filha, Raquel, perfez 44 anos. Dia que deveria ser de alegria virou data
de enorme tristeza e amargura.
Desde há muito
tempo o Emanuel me alimentava com as suas maravilhosas crónicas, para posterior
postagem no meu Blogue Pessoal, algumas delas duma contundência tal que só quem
conheceu o seu permanente passado de luta intrépida por um Mundo Melhor,
decorrente do seu intrínseco humanismo, compreenderá em plenitude o seu
pensamento.
Desde que o
constituí, procurei que o meu Blogue fosse o mais eclético possível,
todavia, na última visita do Emanuel a minha casa, no Porto, em Portugal, em
que me relatou a sua doença, perante uma previsível despedida definitiva a todo
o momento face à inexorável deterioração evolutiva da sua saúde, prescindi de
postagens de outras matérias que não as constantes dos Artigos com que o
Emanuel me encantava. Daí a razão pela qual desde há bastante tempo o seu
material ser o único postado no meu Blogue.
Pela grande cadência de Crónicas recebidas,
que ultrapassava a boa gestão temporal do Blogue, houve um acumular de
material, que ainda possuo em carteira, e, com o ainda seu conhecimento, esses
Artigos iriam ser postados paulatinamente, de modo adequado, o que irá suceder.
Há um, todavia, recebido em Marco
do ano passado, cujo conteúdo desde logo considerei uma autêntica Ode à Vida e
uma preparação psicológica para a inevitável meta cuja data era imprevisível.
Não o postei na altura e guardei-o para data mais adequada. Penso ser o
momento oportuno para sua publicação. Fá-lo-ei agora, cônscio que estou em
pensamento com o Emanuel, esteja ele onde estiver.
Quem era o Emanuel:
De Emanuel Medeiros Vieira
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quinta, 29/03/2018, 14:27
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Bom dia Amigos!
Aqui é Célia,
esposa do Emanuel, encaminho esse informativo, ao qual ele é candidato, indicado, pela
Associação Internacional de Escritores e Artista, ao Prêmio, Nobel da Paz -
2018
No
momento, ele se encontra impossibilitado de vir ao computador, devido a
grave enfermidade, gostaria de compartilhar com vocês, só a simples indicação,
já nos orgulha muito, da sua força, competência e bravura, momento tão difícil,
para nós familiares.
Agradeço, e
peço desculpas, pelo simples texto.
Célia de Sousa
Esposa do
Emanuel Tadeu Medeiros Vieira – Escritor
Nota do Administrador: Há aqui um lapso da Célia: Trata-se do Prémio Nobel da Literatura e não da Paz. Ela andava já muito transtornada, é compreensível.
De Emanuel Medeiros Vieira:
Queria informar
que meu esposo Emanuel Tadeu Medeiros Vieira foi indicado ao Prêmio Nobel
de Literatura pela "International Writers And Artists
Association (IWA), sediada em Toledo, Ohio, nos Estados Unidos, e a língua
oficial é o inglês, mas também é operada em francês, italiano, espanhol e
português.
Queria
ressaltar que ele nem sabe que eu estou escrevendo para os senhores.
Está acamado,
com fortes crises, devido ao câncer.
Para qualquer
outra informação, favor contactar com o e-mail
Cordialmente,
Célia de Sousa
SOBRE A MORTE
"Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais"(Rubem Alves - a
quem agradeço algumas citações neste texto, como a de Cecília
Meireles). Quantos já escreveram o mesmo: já tive medo da morte.
Sinto-me assim. Posso ter medo da dor, e sei como ela chega, não é em um barco
perfumado. A dor maior? Não sei explicar. Como um serrote - indo e voltando,
repito, indo e voltando (uma dor indescritível) na barriga, exatamente nos
tumores, alojados no pâncreas e no fígado e, quem sabe, já em outros lugares.
Indo e vindo. O perfume não é esse.
É de suor, morfina, veias furadas - e aquele cheiro de hospital.
E a morte na soleira da porta. Olha-te - não cinicamente - mas como o
olhar de uma vencedora, que sabe que - NO FINAL - ganha sempre.Também não
tenho medo da morte.
"O que sinto é uma enorme tristeza" (do mesmo Rubem Alves). Ele
lembra Mário Quintana: “Morrer, que me importa? (…) O diabo é deixar de
viver.” A vida é tão boa! Não quero ir embora…"
Cecília Meireles dizia: “E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a
algum lugar enfim se chega… O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas,
nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias… Com que tristeza o horizonte
avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto…”
(Salvador, Bairro da Graça, março de 2018)
EMANUEL MEDEIROS VIEIRA
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Carlos Jorge Mota <carlosjorgemota@gmail.com>
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08/03/2018, 21:07
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Caro Emanuel
Meu irmão partiu aos 54 anos com um tumor na cauda do pâncreas, mas isto em
1986, portanto sem os recursos clínicos que há hoje: quer ao nível do
diagnóstico quer ao nível do acompanhamento terminal. Tinha já o corpo todo
metastaseado, sofreu muito, e nós impotentes perante aquele cenário ...
A angústia dele e nossa era dilacerante.
Sei, melhor que ninguém, portanto, ler as tuas palavras com toda a carga
emocional que elas carregam, mas deveremos, penso, viver dia após dia sempre na
esperança, que não é vã, que o tratamento e cura poderão surgir a cada
instante.
Um grande e afectuoso abraço.
Óbvio que todos os teus poemas, nomeadamente estes últimos, serão postados
no meu blogue.
Estimado Carlos
Muito lúcidas e
generosas as tuas palavras, amigo Carlos!
E são
estimulantes!
É isso: VIVER
CADA DIA!
Muito obrigado!
Grato e
fraterno abraço do Emanuel
Apenas um
complemento, amigo Carlos!
Queria
agradecer a postagem de textos de minha autoria no teu blogue.
Com a estima e
a sincera gratidão do Emanuel
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Carlos Jorge Mota