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terça-feira, 28 de janeiro de 2020

NICARÁGUA

NICARÁGUA
O que é a vida? Uma ilusão,/uma sombra, uma ficção,/e o maior bem é pequeno;/que toda vida é sonho/e, os sonhos, sonhos são.”
(Pedro Calderón de la Barca) – 1600-1681)
Clóvis Rossi  lembra que Fidel Castro declamou um trecho de peça de Pedro Calderón de la Barca nos festejos dos 50 anos do Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio), depois transformado em OMC.
E o citado jornalista, falando da situação tenebrosa da Nicarágua, observa: “Ah, velho Fidel, que triste ver que os sonhos que sonharam parcelas significativas dos jovens latino americanos tenham sido soterrados por ditaduras”.
Em 1979, todos os democratas apoiaram a Revolução Sandinista que derrubou a sangrenta ditadura de Somoza.
A atual e violenta repressão do “sandinista” (?) Daniel Ortega – que mudou de lado e optou por matar o seu próprio povo –, deixou ao menos 351 mortos em três meses de levante popular.
Os estudantes chamam Ortega de novo Somoza.
Ele – traidor da revolução – aliou-se “à fatia mais reacionária e corrupta da elite nicaraguense”.
Conferência Episcopal nicaraguense convocou um jejum de “explícito conteúdo político”.
Os bispos dizem que será “um ato de desagravo pelas profanações realizadas estes últimos meses contra Deus” (alusão à tremenda repressão às manifestações – em geral pacíficas – contra o tiranete.
Informa-se que o PT está apoiando a repressão do novo Somoza chamado Daniel Ortega.
Custo a acreditar que um partido dito dos trabalhadores apoie regime tão brutal.
O PSOL tem se manifestado abertamente contra a repressão do novo ditador.
O secretário de Relações Internacionais da sigla, Israel Dutra, afirmou que Ortega “está se tornando o Assad centro-americano”.
Os democratas de todo o mundo devem-se unir-se em favor do povo da Nicarágua que está sendo literalmente massacrado.
Nenhum homem é uma ilha.

EMANUEL MEDEIROS VIEIRA (falecido em 29 de Julho de 2019)


quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

MUSEU NACIONAL

MUSEU NACIONAL

“As cinzas se tornam parte da paisagem, assim como a pobreza, a sujeira, a violência. Aprendemos a desviar dos miseráveis, a ignorar a podridão das praias, a aceitar chacinas. Quem vai se importar com um museu quando o fogo da indignação apagar?
Espero estar errada.”
(Mariliz Pereira Jorge)
“Um povo sem memória é um povo sem história. E um povo sem história está fadado a cometer no presente e no futuro, os mesmos erros do passado”.
(Emília Viotti da Costa)
O “New York Times” estampou: “Brasileiros choram a perda de um museu, e o declínio de uma nação”.
O “Wall Street Journal” escreveu: “Tesouros do continente em jogo no incêndio de museu do Brasil”.
Como observou Elio Gaspari, “quem viu as primeiras reações dos hierarcas da burocracia cultural diante da tragédia da Quinta da Boa Vista teve o sofrimento adicional de ser tratado como cretino.
incêndio foi um acidente previsível, mas ainda assim foi um acidente. A estupidificação oferecida pelos hierarcas foi empulhação deliberada”(…). Transferir a responsabilidade para a choldra que paga impostos é pura empulhação”.
FOI A CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA: gambiarras, infiltrações, fios expostos etc.
NOSSOS EX-PRESIDENTES VIVOS E O ATUAL, NUNCA PISARAM OS PÉS NO MUSEU.
PARA NOSSOS GOVERNANTES, CULTURA é artigo de segunda necessidade é algo descartável.
O que vale são obras “vistosas”: estádios - hoje às moscas - para a Copa do Mundo. E o Legado Olímpico?
Preferem oferecer muito dinheiro para cantores (“Lei Rouanet”-, via incentivos), que já são muito ricos o suficiente, e não precisam desses recursos, pois já garantem o lucro na bilheteria dos seus shows.
Pagamos o PREÇO DO DESLEIXO PELA CULTURA, PELA MEMÓRIA NACIONAL.
E tudo isso é irreparável.
A verdade é que temos um país sem presente e sem futuro. Agora: sem passado.
Um dia será diferente?

EMANUEL MEDEIROS VIEIRA (falecido em 29 de Julho de 2019

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

JUSTIÇA (LOTERIA?) (E ARNOLDO)

JUSTIÇA (LOTERIA?)
(E ARNOLDO)
NÃO É POEMA, NÃO É PROSA POÉTICA, NÃO É NADA, ALÉM DE UMA MODESTA HOMENAGEM A UM GRANDE SER HUMANO, “DESENCANTADO” COM O SISTEM,A COMO O AUTOR

"Do lado esquerdo do peito, carrego os meus mortos/Por isso caminho um pouco de banda"
                                (Carlos Drummond de Andrade)


EM MEMÓRIA DE ARNOLDO CASTANHO DE ALMEIDA, CUNHADO, COMPADRE E QUERIDÍSSIMO AMIGO – e que sempre buscou a Justiça (que encantou-se no dia 12 de julho de 2018, viajando para as plagas que não conhecemos)

Justiça?
Rituais latinos/lusitanos
Justiça?
Retóricas, preciosismos, embargos, embargos dos embargos, chicanas, recursos que vão à eternidade, postergações.
Ganha quem tiver mais sorte.
Depende da “turma”: Primeira ou Segunda?
(Quero dizer: dinheiro, bancas fortes, advogados famosos, magistrados “camaradas”.)
Alegam “presunção de inocência”, mas o que querem mesmo são bandidos, mafiosos, muito ricos, eternamente fora das grades.
Os outros, os miseráveis de todo o gênero, vão mofar em nossos calabouços, para alegria dos que proclamam: “bandido bom é bandido morto”.
Os outros – principalmente para ministros do STF (supreminho – no diminutivo), os ricos e poderosos, receberão habeas corpus em sequência, aos montes.
Bandido rico é para ficar solto.
Justiça?
(“Menina Branca de Neve”: estrela da minha vida – teu pai cursou Direito na UFRGS (1965-1969), mas não seguiu a carreira. Mesmo sabendo que, em algum canto, possa existir um Sobral Pinto (ou “juízes em Berlim), não deu. Menos rentável, a literatura foi o que eu sempre amei fazer.)
Hoje a Justiça é desalento, desencanto, tristeza.
Esse senhor generaliza” – pode ser, mas não visto toga quando escrevo e nem pronuncio a palavra “excelência”, mesmo que diante de mim esteja um ministro infame.
Arnoldo: agnóstico, eras muito mais “cristão” do que muitos que se classificam como tal.
Tivemos conversas secretas, só dizíamos a verdade, e não queríamos que a nossa família, com a sua fé, ficasse triste. Mas tu sabias o que eu era – eu sabia o que tu eras.
No meio de uns uísques (quando bebíamos), fizemos um pacto: se um dos de nós, diante de dolorida e incurável doença, a gente desligaria os fios que entubavam o outro.
Defendíamos a eutanásia no Brasil.
Respeito os jesuítas pela sua cultura (estudei com eles, como Fidel, Stalin, Chardin e outros), mas – mesmo com os mais capciosos argumentos  – nunca aceitei suas perorações a respeito do “mistério do sofrimento”.
Nada justifica que uma criança sofra a vida inteira numa cadeira-de-rodas ou nasça deficiente –, nada explica o sacrifício de um inocente.
Misericórdia? Pensem bem antes de contraditar.
Com todas as vênias, iria escrever mais sobre a justiça: os rascunhos estão na minha frente.
Não vale a pena. As palavras e quem as escreve perderam todo o valor.
Hegemônicas são as imagens, as engenhocas eletrônicas de Miami ou “made in China”.
Quem só recebe porcarias, só vai amar porcarias, como programas de auditório e lixos afins.
“Ele está cansado e enojado, deveria ter mais ponderação”, diz um racionalista. Perdi-a (a ponderação).
“Sua família vai ficar muito triste ou aborrecida”, adverte outro (promotor ou magistrado em busca de vaga no Supreminho)
Te conheci há 50 anos: eras alegre, jovial, com fantástico senso de humor.
Foste amigo do Raimundo Pereira quando cursaste o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), que conheci quando ele era editor do jornal “Movimento” e eu fui do seu Conselho Editorial – canetas vermelhas dos censores da ditadura, tudo quase tudo proibido, riscado.
Parodiando mestre Drummond, eu diria: lutar contra a ditadura não foi a minha luta mais vã...
Admirava o sentido social e o marxismo de Raimundo – expulso pela ditadura infame – do ITA.
É claro: são sempre os melhores que pagam o pato neste país de pactos oligárquicos, de tenebrosas transações.
“Não sei, não fui eu, não vi, não conheço”.
Kafka e Camus já sabiam: no processo, não importa a inocência ou a culpa, mas a eficácia.
Vai, Arnoldo: que – quem sabe – encontres a paz que a Justiça e o Afeto nos dão.
Do nosso modelo, deste Brasil – já dissemos tudo em nossos longas conversas.
Valerá a pena lutar por um povo que não teve a chance da educação, da informação, da cultura? Claro: sempre valerá.
Perdoa o clichê: não imaginas a falta que já estas fazendo, meu “irmão” de ideais.
(Brasília, julho de 2018)

EMANUEL MEDEIROS VIEIRA (falecido em 29 de Julho de 2019)

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

"BRASIL - BREVE RETRATO"

Para o estimado amigo Carlos, envio o meu texto mais recente, BREVE, INÉDITO, escrito com profunda indignação, com o fraterno, afetuoso e grato abraço do Emanuel.
Agradeço a inserção  do artigo no teu precioso blogue - teu e de todos nós - amantes da boa literatura e das causas humanísticas.

"BRASIL - BREVE RETRATO" 


“Queiramos ou não, temos todos uma moral e uma escala de valores, assim também temos todos uma metafísica. A mitologia dos tupinambás não menos que o positivismo lógico de Viena refletem a eterna demanda”
Eduardo Gianetti
”Há rigor excessivo contra uma parcela menos abastada da população e injustificada leniência quanto aos poderosos. Esse sistema é seletivo e desigual e nem sempre convergem as percepções a respeito de onde se situaria o fator do desiquilíbrio”
Edson Fachin - Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)

Poucos souberam, mas a Justiça do Rio de Janeiro proibiu o município de Itaguaí, na região metropolitana, de pagar mais despesas decorrentes de uma festa chamada “Expo Itaguaí 2018”.
A ação civil pública, com pedido de urgência antecipada, foi proposta pelo Ministério Público do Rio.
A PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAGUAÍ ENFRENTA GRAVES PROBLEMAS NA REDE DE SAÚDE E EDUCAÇÃO.
O PRINCIPAL HOSPITAL DA CIDADE, O SÃO FRANCISCO XAVIER, FECHOU A EMERGÊNCIA POR FALTA DE RECURSOS.
NA CIDADE, A SAÚDE ESTÁ ABANDONADA, O SANEAMENTO BÁSICO É ESCASSO E A EDUCAÇÃO SUCATEADA E FALIDA. NEM MENCIONO A SEGURANÇA.
Aí é que quero chegar.
AINDA ASSIM, COM TODOS ESSES PROBLEMAS, A PREFEITURA RESOLVEU PAGAR R$ 6,2 MILHÕES (SIM: SEIS MILHÕES E DUZENTOS MIL), PARA CONTRATAR ATRAÇÕES COMO ANITTA, ALEXANDRE PIRES E LUAN SANTANA (O CANTORZINHO, QUE EM BREVE, VAI APRESENTAR UM PROGRAMA VESPERTINO NA REDE GLOBO) – “LUMINARES” DO CANCIONEIRO POPULAR BRASILEIRO.
É PRECISO DIZER MAIS ALGUMA COISA?
Chegamos – nós, brasileiros – a um grau tão intenso de resignação, que aceitamos tudo?
Só nos mobilizamos para a Copa do Mundo? De quatro em quatro anos?
Quem sabe, apenas poderemos pronunciar os vocábulos que utilizamos há tempos: NOJO E IMPOTÊNCIA!
Ainda bem que, em tempo, o Ministério Público interveio.

EMANUEL MEDEIROS VIEIRA (falecido em 29 de Julho de 2019)

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

TARDIAS PUNIÇÕES, MAS (SEMPRE) NECESSÁRIAS

Amigo Carlos
O texto abaixo - o meu mais recente, inédito - é muito valipso (não por mim), mas pela nossa antiga luta
pela punição dos assassinos e torturadores da América Latina e do Cone Sul.
Se tens sido muito generoso para comigo, contaria COM A DIVULGAÇÃO DA REFLEXÃO TAMBÉM PARA O
TEU NÚCLEO AFETIVO/IDEOLÓGICO.

Pra mim (creio que o amigo também) tortura é crime contra a humanidade: não prescreve.
Grato e afetuoso abraço do Emanuel

TARDIAS PUNIÇÕES, MAS (SEMPRE) NECESSÁRIAS
(PARA TODOS OS COMBATENTES DAS DITADURAS DO CONE SUL – VIVOS OU MORTOS)
EMANUEL MEDEIROS VIEIRA
1) A Corte Interamericana de Direitos Humanos responsabilizou, em 4 de julho de 2018, o Estado
brasileiro, pelo assassinato do jornalista Vladimir Herzog em 1975, durante a ditadura militar.
O Estado também foi responsabilizado por violar o direito dos familiares de Herzog de conhecerem a 
verdade sobre o caso, e ainda por ameaçar a integridade pessoal dos parentes do jornalista.
COMO REPARAÇÃO, O TRIBUNAL ORDENOU A ADOÇÃO DE MEDIDAS DESTINADAS A 
REINICIAR A INVESTIGAÇÃO E O PROCESSO DO QUE ACONTECEU EM 25 DE OUTUBRO DE
1975.
O OBJETIVO É IDENTIFICAR, PROCESSAR E PUNIR OS RESPONSÁVEIS.
Na sentença, o tribunal afirmou que os fatos envolvendo assassinato de Herzog devem ser considerados
crimes contra a humanidade. São imprescritíveis.
INSISTO; O ESTADO NÃO PODE ALEGAR PRESCRIÇÃO DO CASO OU INVOCAR A (INFELIZ) 
LEI DA ANISTIA PARA SE EXIMIR DE INVESTIGAR E JULGAR OS RESPONSÁVEIS PELA 
MORTE DO JORNALISTA.
Jefferson Nascimento, assessor da ONG “Conectas” reforça o entendimento de que A LEI DA ANISTIA
É INCONSTITUCIONAL (pobre “supreminho” – no diminutivo, como merece).
Parece mentira: este não é o antigo STF, de Hermes Lima e outros dignos combatentes, que se opuseram
ao AI-5, de 13 dezembro de 1968, e pagaram um preço caro.
Mas ficaram na História como grandes, dignos e honrados brasileiros, em momentos tão difíceis.)
2) MILITARES CHILENOS SÃO CONDENADOS POR TORTURA E MORTE DO CANTOR E 
ATIVISTA VÍCTOR JARA.
A Justiça chilena condenou em 3 de julho nove militares da reserva pela tortura e assassinato do grande 
cantor e ativista Víctor Jara.
Jara foi detido, torturado e assassinado com 44 tiros em um complexo esportivo na capital chilena dias
após o sangrento golpe militar (de 11 de setembro de 1973) que instalou no poder a ditadura do sinistro 
general Augusto Pinochet, sem dúvida um notório criminoso “contra a humanidade” (ou um genocida?).
Dos nove condenados, oito foram sentenciados a 15 anos e um dia de prisão pelo assassinato de Jara e do
ex-direitor prisional Litre Quiroga Carvajal.
Jara tinha 40 anos na época.
Era um conhecido e respeitado cantor, diretor teatral e professor universitário, e que simpatizava com o 
governo socialista de Salvador Allende, que foi deposto no golpe de 1973.
O trabalho de Víctor Jara e a natureza de sua morte inspiraram tributos de artistas incluindo Bruce
Springsteen, The Clash e U2.
Segundo testemunhas, as mãos de Jara foram esmagadas com o cano de uma arma e ele foi duramente 
espancado durante o seu encarceramento.
Segundo modestas estimativas, a ditadura de Pincohet, que durou até 1990, matou cerca de 3.200 pessoas
e torturou 28 mil.
Enquanto isso, em nosso Brasil, TODOS OS TORTURADORES – DEFENDIDOS POR CERTO
PROTOFASCISTA OU FASCISTA, CANDIDATO À PRESIDÊNCIA – CONTINUAM IMPUNES.
Repito: TORTURA NÃO PRESCREVE. É CRIME CONTRA A HUMANIDADE.

Nota:Certas Informações foram aproveitadas da “Folha de São Paulo”

EMANUEL MEDEIROS VIEIRA (falecido em 29 de Julho de 2019)