Lançamento do Livro FARDA OU FARDO? - Aquém e Além-Mar Em África foi feito em 12 de julho passado, na Casa da Beira Alta, Rua de Santa Catarina, no Porto, pelas 17:30, conforme Convite anteriormente distribuído, acompanhado da respetiva Sinopse. Seguiu-se um Porto de Honra.
SINOPSE
FARDA OU FARDO? – Aquém e Além-Mar Em África é um livro que procura
retratar a ambiência da então Guerra do Ultramar, das emoções que os militares
e seus familiares mais diretos vivenciaram, tentando colocar o leitor no lugar
do então jovem militar logo que sabia estar mobilizado, acompanhando todo o seu
trajeto: ainda na Metrópole, na viagem
de ida, em terras africanas e no seu regresso ao seio familiar - já
completamente alterado na sua personalidade.
Transparece uma tentativa do
Autor se abster de citações de combate propriamente dito, não só por se tratar
de tema já sobejamente abordado em múltiplas publicações editadas por outros
Combatentes, mas, principalmente, por ser sua preocupação focalizar-se no
Homem, na sua interligação pessoal – relacionamento de plena camaradagem – e no
seu posicionamento perante a ansiedade, o perigo, o stress, o cansaço, o desespero, a fome, a sede, a impotência
perante o irremediável, o infindável cortejo emocional que emerge de cada
circunstância diferenciada, inclusive nos momentos de alegria.
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PREFÁCIO
O Preço do Fardo
Manaíra
Aires Athayde
Centro de Literatura Portuguesa
Universidade de Coimbra
Palavra, um homem tem que ser
prodigioso.
Porque é arriscado ser-se um
homem.
É tão difícil, é
(com a precariedade de todos os
nomes)
o começo apenas.
(Fernando Assis Pacheco)
Certa vez li que «Cada ser humano é
um afluente da longa memória do mundo». Esta passagem veio-me em pensamento
várias vezes ao longo da leitura que fazia de Farda ou Fardo?. Tentei
refletir a razão pela qual era essa a frase insistente em minha mente, tentando
inclusive lembrar de onde vinha a tal citação. Passados alguns dias,
recordei-me.
A Guerra como Experiência
Interior. Não é apenas o título do livro de Ernst Junger onde a tal frase
está, mas é um mote importante para pensar a obra de Carlos Jorge Mota. Afinal,
mais do que da guerra, Farda ou Fardo? trata da memória. A memória que é
a experiência interior e o testemunho singulares em sua capacidade de
transformação sob o relato da comunhão, do sentimento de unidade nos homens
quando têm uma vivência do perigo comungada. Farda ou Fardo?, afinal,
trata não só do sofrimento e dos ruídos de combate retumbados naquela guerra
que já avançava em oito anos quando o Batalhão de Caçadores 2872 foi destinado
a Angola, em Maio de 1969. É um livro que também circunscreve os ruídos que
tantas vezes ecoam na alegria e na tragédia da muito frágil condição humana.
Aliás, esta obra, mais do que a
exposição da fragilidade da existência, para mais num contexto bélico, fala
sobretudo da condição humana. Está lá a despedida do pai que, enfermo, não
voltaria a ver o filho combatente; as mulheres que, aquém-mar, prontificaram-se
a ser um sustentáculo emocional para os que partiram para a guerra; a luta pela
sobrevivência acompanhada da aprendizagem com a savana e a selva, e com a selva
humana. Quer dizer, lá está a História contada em metonímica, numa escrita
precisa e muito próxima do documental, estruturada em capítulos curtos que
prezam pela informação exata e pela contextualização, com a capacidade em
absoluto de domínio do relato.
Relato que nos traz uma outra
importante memória de leitura: a África. O poder de unidade que o significante
África evoca sobrepõe às naturezas individuais dos seus países. Na memória do
combatente não descobrimos só Angola. Nela está a África, com todas as
transformações idiossincrásicas que podemos resgatar das descrições de
estrangeiros que vivenciaram o território africano. «Quando se apanha o ritmo
de África descobre-se que este é sempre o mesmo em toda a música deste
continente», escreve Karen Blixen no famoso África Minha.
A adaptação em África implica
reconhecer que a natureza humana é regida pela mesma natureza extrínseca ao
homem, que nessas circunstâncias tem que se voltar para os sons, os cheiros, os
tons que delineiam o contacto entre povo e habitat. A adaptação requer agir de
acordo com o vento, com as cores e odores da paisagem. É necessário adaptar-se
ao ritmo do conjunto. A África, de facto, vivifica vastamente a experiência do
coletivo.
Pois certo é que, embora Farda
ou Fardo? esteja sob um registo muito mais próximo do
documental-historiográfico do que da ficção, por toda a narrativa podemos
perceber que se engendra a «experiência de África». A própria riqueza de
detalhes com que o autor descreve as suas vivências já revela a intensidade com
que elas persistem em sua memória. Quem viveu esse espaço de familiarização com
a África não deixa de viver, nesse sentido, um espaço de transiência, em que a
fugacidade do tempo é pressuposta pela intensidade das experiências vividas.
Porquanto dois anos em Angola na (hoje denominada) Guerra Colonial muda uma
vida inteira.
Uma vida inteira em que a farda de
outrora, e o sentimento de se estar a serviço da nação amalgamado ao «nojo» que
é a guerra, como descreve Mota, vai se tornando um fardo. E se o fardo é um
«conjunto de coisas comprimidas e devidamente atadas», como nos diz o
dicionário, pelo que é difícil de se suportar e que se sente como um peso, ao
mesmo tempo exige cuidados e grande responsabilidade, como a de escrever este
livro passados 45 anos da ida para a guerra. Missão de escrita, aliás, que não
parece ser uma tentativa de se livrar do fardo que por décadas persiste, e sim
de partilhá-lo, não propriamente intentando diminuí-lo, mas procurando conhecê-lo,
reconhecê-lo pelos sulcos do tempo. Procurando avaliar, chamando às memórias, o
preço do fardamento, que certamente custou muito mais do que os quatro contos
que cada miliciano teve que pagar ao Exército pela farda que vestia.
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O Autor no uso da palavra
Intervenções do Auditório
Depoimento dum Camarada de Armas presente na Apresentação do Livro - Jaime Froufe Andrade - postado por si no seu Mural do Facebook e compartilhado inúmeras vezes por outras pessoas:
Jaime Froufe Andrade partilhou um estado.
Outro depoimento feito por um outro Camarada de Armas, também lá presente, postado por si no seu Mural do Facebook e compartilhado posteriormente: