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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

AMANTE DA DITADURA

Para o amigo Carlos, agradecendo a generosa (se for apreciado o texto), a inserção do texto curto no blogue.
Gratidão e afeto do Emanuel (Nunca (ou quase nunca), os democratas brasileiros (e do mundo todo) precisaram estar tão unidos!

AMANTE DA DITADURA

PARA TODOS OS DEMOCRATAS BRASILEIROS E UNIVERSAIS
1) Na entrevista que o repórter da revista “Time”(dia 22 de agosto), jornalista Matt Standy, fez com Jair Bolsonaro, ele escreveu que o candidato, autocrata, amante da ditadura, “defende a possibilidade de violência desenfreada do Estado. Iguala homossexualidade à pedofilia; apoia o ditador sanguinário chileno Augusto Pinochet, cujas capangas estupravam mulheres com cães”.

A revista ouviu Anthony Pereira, do King’s College de Londres: “Uma coisa é os EUA terem uma presidente pária. Seria outra para o Brasil. Este é provavelmente um dos maiores testes que a democracia já enfrentou”.
(Baseei-me também em informações do jornalista Nelson de Sá.)

2) A Terceira Turma do TRF (Tribunal Federal da Terceira Região), decidiu no dia 22 de agosto que A REPARAÇÃO POR DANOS CAUSADOS POR TORTURA A MILITANTE POLÍTICO DURANTE A DITADURA MILITAR É IMPRESCRÍTIVEL.
Ou seja, não perde efeito por conta de extrapolar um prazo legal.
A ação ofoi proposta pelo Centro Acadêmico XI de Agosto da Faculdade de Direito da USP contra a União e o Estado de São Paulo.

O alvo da violência dos militares foi o estudante Márcio Nascimento Galvão, preso por integrar a organização APML (Açao Popular Maxista Leninista).
Em 1971, ele ficou um mês aprisionado.
Mais tarde, Galvão foi inocentado pelo próprio Tribunal Militar.
Após a soltura o estudante foi perseguido, sofrendo consequências como dificuldade de arrumar trabalho.
(Agradeço as informações prestadas pelo jornalista Walter Nunes.)

NOSSA DEMOCRACIA – mesmo que não plena, “formal – nossa democracia, raras vezes sofreu um ataque tão sistemático e dirigido pelo protofascismo ou pelo fascismo propriamente dito.
Cabe aos brasileiros de boa vontade, democratas sinceros, não se omitirem e usar todos os instrumentos de que dispõem (como a PALAVRA) para que as trevas não voltem.
As gerações mais novas não estão informadas dos efeitos dolorosos e infamantes do Golpe de 64.
Na medida do possível, é nosso dever esclarecê-las.

EMANUEL MEDEIROS VIEIRA (falecido em 29 de Julho de 2019)

Nota: Fui informado no momento do envio que este Artigo também se encontra inserido no Blogue

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

MEMÓRIA E LINGUAGEM

Para o amigo Carlos, com o abraço do Emanuel

"Memória e Linguagem"

Em Memória de João Otávio Neves Filho (Janga)

Quero falar da memória não como algo mecânico, mas como base de toda a identidade.
Memória como instrumento de justiça e de misericórdia.
Não por acaso, na mitologia grega, Mnemosina, a memória, é a mãe das Musas, ou seja, de todas as artes, do que dá forma e sentido à vida.
Sim, ela protege a vida do nada e do esquecimento.
A literatura não deixa de ser (também) um instrumento de transfiguração de um momento (eternizar a memória).
Uma busca de perenizar o instante para convertê-lo em sempre.
O ato da lembrança é ao mesmo tempo caridade e justiça para as vítimas do mal e do esquecimento.
Muitas vezes, indivíduos e povos desapareceram no silêncio e na escuridão.
Muitos devem se lembrar das ditaduras que, apagando as fotografias dos banidos querem, em verdade, apagar a sua memória.
A memória é resistência a um tipo de violência: àquela infligida às vítimas do esquecimento.
A memória é o fundamento de toda identidade, individual e coletiva.
Guardiã e testemunha, a memória é também garantia da liberdade.

A linguagem é edificada para a construção dos textos que querem eternizar nossa brevidade, a nossa finitude.
Como observa a filósofa e historiadora, Regina Schöpke, “quanto mais inconsciente ou subliminar é a linguagem, mais fortemente ela age sobre nós, mais ela nos domina e nos dirige.”
Os filósofos e filólogos sabem disso.
Estes últimos, veem nela não apenas uma ferramenta da razão para dar conta do mundo, mas, sobretudo, uma segunda natureza.
“Algo que, de certa forma, produz o mundo, e não apenas o representa”, como observa a autora citada.
Os gregos já enfrentavam a questão.
Nietzsche – que além de filósofo era também filólogo – chamava esse universo da linguagem de “duplo afastamento do real”, de “segunda metáfora”.
Porque aí os homens lidavam com conceitos e não apenas com o mundo em si.
A linguagem pode ser instrumento de dominação, estimulando um preconceito racial, como fizeram os nazistas, alimentando o fanatismo e o preconceito, gerando um horror como raramente (ou nunca) se viu na História.
Todo sistema com ambições totalitárias, como detectou a pensadora, tem necessidade de produzir um discurso, uma mitologia e palavras de ordem.
É um exercício mental doloroso, mas assim a gente pode entender como uma cultura que produziu tanta beleza com Goethe, Beethoven, Nietzsche, Hegel, Wagner e outros, tenha mergulhado, com o nazismo, na mais profunda irracionalidade, onde o Mal apareceu com toda a sua força, ou melhor, em toda a sua plenitude.

Tento meditar sobre esses assuntos, entre outras razões, porque a falta do estudo da filosofia para quem tem menos de 60 anos, criou um tremendo vácuo cultural.
Fundou-se o universo utilitário, da posse imediata. Só vale o que tem valor contábil.
Faço minha a proclamação de Michel Foucault: “Não se apaixone pelo poder.”


Emanuel Medeiros Vieira (falecido em 29 de Julho de 2019)

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

CASO HERZOG: MINISTÉRIO PÚBLICO REABRE INVESTIGAÇÃO

Com o abraço amigo do Emanuel Medeiros Vieira
CASO HERZOG: MINISTÉRIO PÚBLICO REABRE INVESTIGAÇÃO

“Num momento histórico de divulgação desenfreada de informações, a investigação histórica, comprometida com a fidedignidade, é fundamental”
(Marieta Ferreira)
Após a Corte Interamericana dos Direitos Humanos condenar o Brasil no começo de julho de 2018, por não investigar e punir o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, em 1975, o Ministério Público – em 30 de julho – reabriu as investigações sobre o caso.
Uma investigação anterior do MP sobre a morte do jornalista,havia sido arquivada em 2009, com base na Lei de Anistia  de 1979, que “perdoou todos os que cometeram crimes” relacionados à ditadura militar

Porém, após duas condenações do Brasil pelo tribunal de direitos humanos – a primeira em 2010, pelo desaparecimento de 62 pessoas na Guerrilha do Araguaia, a segunda agora referente a Herzog –, o MP “adotou a posição de que estes casos deveriam ser levados novamente à Justiça”.
“Crimes cometidos por agentes do Estado fizeram parte de um ataque sistemático contra a população.
São crimes de lesa-humanidade. Isso foi confirmado pela sentença da corte. Por isso, esses crimes não são suscetíveis de prescrição e à anistia, afirmou Sérgio Suiama, procurador da República.
É preciso insistir: tais crimes NÃO PRESCREVEM. SÃO CRIMES CONTRA A HUMANIDADE.
 NÃO PODEM SER AMPARADOS POR QUALQUER LEI DE ANISTIA.
Como vamos construir a justiça  se não tivermos memória da injustiça?
A Corte Interamericana determinou que num prazo de um ano sejam prestadas informações sobre o cumprimento da sentença.
Ivo Herzog, filho de Vladimir, disse que é hora de reviver o passado para construir um futuro melhor.
É o que esperam não só os que foram vítimas do arbítrio da ditadura e as famílias dos mortos, mas todos os brasileiros que nunca deixaram de lutar em prol de uma Pátria cidadã e justa.
(Brasília, julho  de 2018)*
*Agradeço o eventual compartilhamento.

EMANUEL MEDEIROS VIEIRA (falecido em 29 de Julho de 2019)

NotaEste Artigo é já de Julho de 2018, mas, derivado à grande cadência de remessas que ele, o Emanuel, me fazia para publicação e considerando o ritmo temporal razoável para publicação, foram-se acumulando artigos que sempre postei um semanalmente. Chegou a vez deste, que, embora já está desfasado no tempo, o seu conteúdo é sempre actual.
Faço-o, mesmo assim, em memória deste GRANDE AMIGO que partiu após longo sofrimento, talvez o principal tenha sido o de ordem psicológica.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

MORTE EM MANÁGUA

Artigo que me foi remetido para publicação por EMANUEL MEDEIROS VIEIRA (falecido entretanto em 29 de Julho de 2019), e também publicado em um outro Blogue por ele citado - HOJE EM DIA
Morte em Manágua
Manoel Hygino 

Autoridades forenses nicaraguenses confirmaram que a estudante brasileira de medicina Raynéia Lima, de 31 anos, morreu por perfurações de balas no tórax e abdômen, após ataque supostamente de paramilitares. Eles atuam como força de repressão aos protestos que sacodem o país desde abril para exigir a saída de Daniel Ortega da presidência. Os mortos são além de 340, até agora, e o número de pessoas que perderam a vida cresce incessantemente. 
A brasileira vivia há seis anos no país, onde cursava o último ano de medicina na Universidade Americana, e acabou ferida quando o veículo que dirigia foi atingido por disparos no Sudoeste de Manágua, em área dominada por paramilitares ligados a Ortega.
O escritor catarinense Emanuel Medeiros Vieira, perseguido e preso no Brasil pela ditadura militar de cá, e que ora sofre com um câncer que lhe atormenta os dias, em Salvador (BA), onde reside, envia mensagem, em nome dos democratas da Nicarágua. Pede que se divulguem os clamores contra o massacre de que têm sido vítimas, os que são da Nicarágua ou que lá moram. 
Observa que, em 1979, todos os democratas apoiaram a Revolução Sandinista que derrubou a ditadura de Anastásio Somoza, não muito diferente, aliás, de muitas outras que dominaram as Américas do Sul e Central, digo-o eu.
A atual e violenta repressão de Daniel Ortega – que mudou de posição e optou por oprimir o seu próprio povo –, deixou ao menos 351 mortos em três meses de levante popular, mas continua no poder e sanguinário. Os estudantes o chamam de novo Somoza. Ele – traidor da revolução – aliou-se “à fatia mais reacionária e corrupta da elite nicaraguense”. 
A Conferência Episcopal do país convocou um jejum coletivo para condenar a violência. Os bispos dizem que será “um ato de desagravo pelas profanações realizadas nestes últimos meses contra Deus”, em alusão à tremenda repressão às manifestações – em geral pacíficas – “contra o tirano”, que fez da esposa vice-presidente. 
Os antigos integrantes do grupo formado nas Américas para derrubar as ditaduras de seus países desertaram. Sabe-se o que aconteceu com Cuba, buscando hoje nova vias para o povo e a economia nacional. No Brasil, Leonardo Boff condena os caminhos assumidos pelo ditador Ortega. Resta a Venezuela, falida em todos os sentidos. Até quando Nicolás Maduro resistirá?
Entre nós, o jornalista Clóvis Rossi, referindo-se à situação na Nicarágua, lembra Fidel em seu tempo idealista: “ah, velho Fidel, que tristeza ver que os sonhos que sonharam parcelas significativas dos jovens latino-americanos tenham sido soterrados por ditaduras”.
Fidel comentara: “chega já dessa ilusão de que os problemas do mundo podem ser resolvidos com armas nucleares! As bombas poderão até matar os famintos, os enfermos e os ignorantes, mas não podem matar a fome, as enfermidades e a ignorância”. 
A lição é válida também para outros armamentos, em todos os lugares do planeta. Enquanto isso, mais um brasileiro é morto, agora em Angola. Aguardemos.