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domingo, 31 de março de 2019

TRISTE MEMÓRIA

TRISTE MEMÓRIA

EM MEMÓRIA DE ANITA BITTENCOURT
“Luto” não é “comemoração”.
55 anos do golpe militar de 1964.
Minha geração (a nascida em 1945 – o ano como ritual simbólico de passagem de uma guerra que terminava e outra que começava), sabe bem o que ele significou.
Significou sequelas físicas, psicológicas e morais.
Marcas no corpo e no “espírito”.
Observa Vladimir Safatle: “Não são uma bravata a proposição criminosa de comemorar a ditadura de 1964 e as declarações sórdidas de que foram “probleminhas” as torturas, o terrorismo de Estado, a ocultação de cadáveres, os estupros, os assassinatos, a censura, o empastelamento de jornais”.
Marcas no corpo e no “espírito”, ilusões perdidas, distopias (sim: utopias destruídas).
É triste ver que algumas pessoas gostem de exibir orgulho, ignorância e simpatia por torturadores e assassinos.
Editorial da própria ”Folha de S. Paulo” (27 de março de 2019) lamenta que um presidente da República seja um “entusiasta declarado, por exemplo, do coronel Carlos Brilhante Ustra, um notório torturador, a quem consi dera um herói brasileiro”.
O presidente patrocina – como disse alguém – patrocina a subversãoo de valores ao convocar “uma celebração oficial para um regime quecfechou o Congreososo, prendeu opositorese usou a otortura e mortecomo métodos de repressão.
oObserva Valadimir Saflatle que “não são uma bravata a proposião criminosa de comemorar a ditadurade1964cv e ass declarações sórdidas
No fundo, é triste perceber que o quaase surreal desgoverno atual, que parece uma dolorosa “comédia-dramática” de erros primários de ministros (de áreas fundamentais) absolutamente despreparados, não significa apenas incompetência grosseira: mas algo “planejado”- UMA TENEBROSA APOSTA NO CAOS.
É POLÍTICA DE ESTADO, PROPOSITAL, PARA QUE NÃO INVENTEMOS FINALMENTE A DEMOCRACIAO COM A QUAL TANTO SONHAMOS.
Estarei errado? Me chamarão de ”paranoico?” Espero estar equivocado.
Os ocupantes do poder parecem preparar dias piores.
Desta vez, eles precisarão calar muitas vozes.
“O dia 31de março sempre será, na história deste país, o dia da infâmia e da vergonha. Se alguém esqueceu, nós podemos lembra-lo” (Vladimir Safatle).
(Brasília, março de 2019)

EMANUEL MEDEIROS VIEIRA

terça-feira, 26 de março de 2019

REFORMAS (PREVIDÊNCIA)

Não há espaço em toda mídia na qual não apareça a “reforma da Previdência”
Intriga o poder milagroso que se atribui a ela..
Como escreveu José Guilherme Piva, ”não existe mal que ela não redima: déficit fiscal, entraves à produção, desconfiança de investidores, desemprego, dívida pública e tudo o mais”.
Ele continua: “Não sei se há algum bônus de desempenho por quantidade de artigos, entrevistas e palestras enaltecendo o passaporte que ele concede ao paraíso, mas sei que é de espantar que, tendo reforma o atributo salvacionista que apregoam, não a adotemos  por mera aclamação na internet. Bastaria um clique –  como poderíamos nos negar o ingresso em tal reino de fartura?”
Mas a verdade não é bem essa.
A versão de que todos ganham é mentirosa.
ESSA VISÃO É UMA PROFISSÃO DE FÉ.
Os que duvidam –aponta o articulista citado – temem haver inferno (“abandonai toda ilusão, vós  que entrais”), purgatório ou mesmo nada depois do “portal a ser transposto”.
Para Marcos Marques de Oliveira, com a justificativa de combater privilégios, a reforma previdenciária transformará o ato de se aposentar num tipo de privilégio: “só para os que sobreviverem às agruras do capitalismo periférico brasileiro”.
“Uma oposição perdida e uma imprensa que não preza pelo contraditório obscurecem o debate sobre assunto tão importante. Esse fosso entre os verdadeiros ricos (proprietários dos meios de produção) e os outros aumentará  ainda mais neste país já tão desigual”, arrematou.
Luiz Guilherme Piva tem convicção de que todos os que acreditam na reforma da Previdência como as antessala do Paraíso, não fazem menção a outras questões estruturais que superam (e até originam) as da Previdência:
Infelizmente. a infalibilidade da reforma previdenciária é o maior dos dogmas.
Desigualdade de renda, miséria, informalidade, atraso tecnológico, distorções fiscais, deficiências educacionais concentração regional, baixa produtividade, inserção externa precária e de baixo valor.
A SOLAR VERDADE PRECISA SER DITA: A REFORMA DA PREVIDÊNCIA ESTÁ SENDO GESTADA APENAS PARA AGRADAR O “DEUS MERCADO” – o deus da hegemônica  imprensa escrita, o deus das grandes redes de televisão, o deus dos que mandaram neste país  desde a Colônia.

(Brasília, março de 2019)


EMANUEL MEDEIROS VIEIRA

terça-feira, 19 de março de 2019

MENSAGEM A MEU IRMÃO ONDE QUER QUE SE ENCONTRE

Anderson Braga Horta




    URGENTE
MENSAGEM A MEU IRMÃO
ONDE  QUER  QUE  SE  ENCONTRE

Paz — é o pão e o vinho.
Paz — é o rir da criança e o sorriso do ancião.
Paz — é o perdão e o carinho.
Paz — é o respeito à alteridade.
Paz — é o amor à vida, própria ou alheia.
Paz — é a proteção às formas ditas inferiores de vida,
       que nos permitem viver.
Paz — é a consciência de ser a Terra a nossa casa
        e de sermos irmãos todos os que a habitamos.
Paz — é o que te desejo.

terça-feira, 12 de março de 2019

O VALOR DE UMA CARTA




Notas:
1) Na 1ª fotografia está indicado, por lapso, o nome do Boavista, quando, na verdade, se trata do Orlando, condutor da Viatura Berliet sinistrada.
2) Foi passados 19 anos (1990) que efectuámos a 1a. Confraternização (e não 10). O nosso Capitão esteve presente na primeira e na segunda, esta última em Abrantes, onde, inclusive, fizemos uma cerimónia de carácter militar dentro da Unidade (RI 2).

In BOLETIM - LAT-Liga dos Amigos de Tortosendo


segunda-feira, 4 de março de 2019

DESERTO DO MUNDO (DO CORAÇÃO)

DESERTO DO MUNDO  (DO CORAÇÃO)

PARA AS MINHAS IRMÃS E OS MEUS IRMÃOS 

 “NON RIDERE, NON LUGERE, NEQUE DETESTARI, SED INTELLIGERE” 
 ”NÃO RIR, NÃO LAMENTAR, NEM AMALDIÇOAR, MAS COMPREENDER” 
                               BARUCH SPINOZA (1633-1677) 

Viagem, passagem, tempo – meros transeuntes no planeta. A comunicação pode ser (ou parecer) impossível, mas não desistimos dela. Pois “no deserto do mundo a única terra fértil é o coração do ser humano”, como acreditava Dom Helder Câmara. 
É fundamental a passagem da escravidão para a libertação. 
Acredito que todos nós percebemos os imensos avanços tecnológicos alcançados pela civilização. 
Mas eles não correspondem à vida interior das pessoas: regressões éticas, mentiras, corrupção desenfreada, os mais variados jogos da esperteza (maliciosamente confundidos comaautêntica criatividade – que nos faz crescer), a desilusão no coração humano, as dificuldades de alcançarmos as verdadeiras mudanças (internas ou externas), a sensação de que vivemos num um soberano exílio, no qual não triunfa a intersubjetividade das consciências – mas o individualismo – para a construção de um mundo mais ético, justo e melhor. ) Toneladas de papéis não dão conta do desassossego humano. 
Afora, as doenças, a imensa desigualdade, as guerras todas, e nem pequenos conflitos se resolvem. 
O Papa Francisco lamentou a falta de união ao redor do mundo e alertou contra a busca desenfreada por lucros que beneficia apenas a poucos. “Quanta dispersão e solidão existe entre nós. O mundo está completamente conectado e, ainda assim, parece crescentemente desunido”, disse ele. 
A própria noção de caridade, para muitos, virou algo piegas, quando na verdade ela é ”a esponja do coração: quanto mais bens espreme, mais bens lança de si”. Sim, viagem, passagem, tempo – meros transeuntes no planeta. 
Para Soren Kierkegaard (1813-1855), “o possível é um extraordinário espelho que só pode ser usado com prudência”. E a nossa memória afetiva? 
Esquecer alguém é como/esquecer de apagar a luz no quintal/e deixa-la acesa também de dia:/mas isso também é lembrar/pela luz”. São versos do poeta israelense Yehuda Amichai (1924-2000). Segundo Marcelo Coelho, “a ideia da casa abandonada, casa que deixamos provisoriamente, casa que alguém constrói – volta e meia aparece nos versos desse autor, que nasceu na Alemanha, mas migrou com a família para a Palestina em 1935”. 
A casa poderia ser o mundo. 
Casa não é só fundação, prego, tijolo, cimento, areia
É essencialmente memória afetiva, estórias, pés que lá pisaram, pipas no quintal, onde havia um pé de goiaba e uma outra “casinha” (de madeira) com enxadas, pás, arame, tanta coisa, e na casa principal, entrando-se pelos fundos, um fogão de lenha, um tio que chegava sorridente, alegre, abraçando mamãe com incrível carinho e brincadeiras, canjica na Semana Santa, tainha frita, e mesmo na hora de algum luto ela continuava à frente do fogão de lenha. 
Parece que todos me visitam nesta manhã de domingo – ofereço café novo, pão feita em casa, geleia de morango, todo o amor acumulado por gerações, estão todos juntos – também a já numerosa legião de mortos amados – com eles, desde o diagnóstico do meu câncer (em 30 de dezembro de 2014), sonho de maneira recorrente, até contínua, um café no aeroporto com a Letícia, “liderando” um giupo de psicólogos,, Marcelo relembrando nossos acampamentos, aventuras, tragos (um bilhar nos “Ingleses”, na Ilha de Santa Catarina, o Júlio César estava presente-, o Pepe convida-nos para um churrasco, ele prepara com esmero , Giocondinha querendo a “saideira” (de cerveja), em outra dimensão deve ter esquecido que não bebo há quase três décadas, mas para ela não ficar triste proponho um suco de maracujá, Alfredo David, apaixonado pelo mar, ilumina o seu olhar quando fala de uma casinha azul e branca que ele amava muito, no extremo-norte da mesma Ilha, perdão aos mortos que não citei, , o domingo se põe, os visitantes foram embora, mas um encantamento permanece – como um cheiro de jasmim –nos pássaros cantando, na lua cheia, no tempo que passa batido, na própria vida – ela mesmo, a gente querendo segurar – para sempre – o instante. 
(Brasília, março de 2019).

EMANUEL MEDEIROS VIEIRA