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sábado, 2 de junho de 2018

TARCÍSIO


                     TARCÍSIO
       EMANUEL MEDEIROS VIEIRA
    PARA TARCÍSIO, IRMÃO QUERIDO E MUITO AMADO
   QUE NOS DEIXOU EM 19 DE JUNHO DE 2016
“É isso aí: o tempo passando sobre todos nós – invernos, verões, outonos  primaveras.
Numa cabeceira da ponte, a parteira ou o obstetra. Na outra, o coveiro.
Mas não acaba aí, tenho  certeza .  A outra ponte liga o Tempo à Eternidade. Labirintos, dúvidas, enigmas.  Decepções, angústias, frustrações... Eis a ponte que nos leva ao Céu, a vitória da Eternidade sobre o Tempo, do Bem sobre o Mal, de Deus sobre Lúcifer.  Felicidade nocauteando a  desgraça, o desamor, as incertezas do amanhã sobre a Terceira Ponte do rio
                            (PAULO LEONARDO MEDEIROS VIEIRA)
(...) “Separados ou juntos/somos apenas parte de um misterioso conjunto” (...)
                            (AFONSO ROMANO DE SANT’ANNA)   
Meu irmão Tarcísio: queria te escrever uma carta. Mas sinto-me, hoje, muito aquém do que pretendo. Ideias, que chegam como relâmpagos – fragmentos – e a obrigação de dizer sim à Memória, ao não esquecimento, recusando o Olvido.
Sempre querendo descobrir a saída do labirinto.
Seria mais fácil escrever assim: “Querido irmão Tarcísio. Saudações. Voltei para uma longa temporada em Salvador. Continuo lutando contra a doença”
O país continua uma desgraça: corrupção, desesperança etc.
Claro: não era isso o  que queria.
Pensava nos “campinhos” vazios  da Ilha amada nos anos cinquenta, peladas, suor – e refresco de framboesa ou groselha. E depois da nossa casa na Avenida Rio Branco, indo em direção à venda do Quidoca,  havia um grande terreno vazio. Não era a época dos grandes edifícios, condomínios, porteiros, cercas elétricas, violência.
Eu , tu e Miriam íamos colher pitangas e goiabas nesse terreno tão grande e vazio.
O dono, seu Adalberto (se a memória não me falha, seu nome era esse). Ele não gostava muito...
Quando dava, íamos à Trindade, à Chácara dos Padres, mas lá havia cães policiais. Mamãe preparava a comida no sábado, junto com as filhas e, com o pai Alfredo, íamos aos domingos à Gruta da Trindade – rezávamos, comíamos.
Não sabíamos que a infância, a adolescência e a juventude passavam tão depressa – um raio.
Éramos eternos, Infinitos. O mundo era aquele.
Andávamos pela Ponte Hercílio Luz, íamos aos jogos no Campo da Liga, assistíamos aos jogos do Avaí, soltávamos pipas no Campo de Manejo.
Mas a eternidade foi embora meu irmão. Mas valeu, não?
 Depois, a década de 60 em Porto Alegre. Víamos todos os filmes. Assistíamos aos melhores faroestes. E, para nós, John Ford era o maior cineasta de todos os tempos (continuou sendo, mano).
Discutíamos horas a fio a obra prima “Rastros de Ódio” (“The  Searchers”, 1956) –considerado um dos dez melhores filmes de todos os tempos – de John Ford, que eu (sozinho) assisti umas dez vezes durante minha vida toda.
Orson Welles, eu soube, outro gigante, assistiu “No Tempo das Diligências” (“Stagecoah”, 1939) também do mestre Ford,  umas 20 vezes seguidas. Passava, rebobinava, voltava.
E amávamos também–, pela densidade e profundidade de sua obra, meditando sobre o tempo, a velhice e a morte – Ingmar Bergman, o grande sueco.
Não repara nessa lágrima vagabunda. Tinhas uma enorme senso de justiça, infinita compaixão pelos humilhados e ofendidos da terra, pelos órfãos de todos os modelos – eras o nosso “franciscano”: generoso, e companheiro
Tão insuficiente o que escrevi, não é Tarcísio? Perdoa-me. Mas fica a certeza do nosso eterno amor – que vencerá o Tempo e a Eternidade, como sabiamente disse o nosso mano Paulo.
Até! Um beijo no teu coração, meu irmão! Célia te abraça, também com saudade (que conheceste  naquela bela viagem a Brusque há uns... não me lembro – três anos?, eu ela e o sobrinho e amigo Júlio César).
Beija a tua companheira (por 52 anos), que te faz companhia. Clarice, Lucas, Américo e Maurício também te saúdam.
(Salvador, junho de 2017) 

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