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quarta-feira, 21 de novembro de 2018

O QUE SOMOS SEM MEMÓRIA?

O QUE SOMOS SEM MEMÓRIA?
 
TORTURA (TORTURADORES)

“DA NÃO ESCRITA TEORIA DOS SONHOS”

“Os torturadores dormem tranquilos têm sonho cor-de-rosa/os bonachões genocidas a quem já perdoou/a curta memória humana (...)
O sino da memória não desperta fantasmas nem pesadelos/o sino da memória repete a grande absolvição./
Por que o sonho – o refúgio de todos os seres humanos/recusa a sua graça às vítimas da violência/ por que à noite sangram entre lenços limpos/e entram nas suas camas como nas câmaras de torturas/como na cela da morte como na sombra da forca/afinal eles também tiveram uma mãe e viram o bosque a clareira a macieira em flor a rosa/quem baniu tudo isso dos recônditos das almas(...).
Então por que seus rugidos despertam de noite os familiares inocentes/e irrompem mais uma vez numa fuga insana/batendo a cabeça na parede e depois não dormem mais/fitando obtusamente o relógio que nada mudará/o sino da memória repete o grande pavor/o sino da memória imutavelmente soa o alarme/
Deveras é duro confessar que os torturadores venceram as vítimas para toda a eternidade da vida já estão derrotadas/
Assim precisam por si mesmas conciliar-se com este castigo sem culpa/ (...)
Não existe mais o lugar para prestar queixa/vereditos inconcebíveis profere o tribunal dos sonhos”
ZBIGNIEV HERBERT (1924-1998) – considerado um dos principais nomes da literatura polonesa no século 20

Nos trópicos, todos eles torturadores) dormem ou dormiram tranquilos Ou morreram com lençóis limpos, homenageados por altos hierarcas – sempre reverenciados.
Aqui: a impunidade perpétua que reina neste país, onde a escravidão ainda está internalizada e enraizada nos corações e mentes.
Não falo do Chile, do Uruguai, da Argentina.
Sempre “conciliamos por cima” e endeusamos o deus ”mercado”.
Quando comemoramos os 30 anos da Constituição de1988, o presidente do STF, aproveita para dizer que o golpe, a ditadura e o regime militar de 1964, foram apenas um “movimento”.
É um escárnio à História e às vítimas da ditadura. IGNORÂNCIA?
Em 1979, o governo militar promulgou a Lei de Anistia, que concedeu perdão (indulto) a “militares envolvidos em violações aos direitos humanos anteriores àquela lei”.
De certa forma, foi a completa consagração da impunidade
As palavras do presidente do STF “revelam um total desconhecimento da Comissão Nacional da Verdade (CNV).
A CNV concluiu que detenções ilegais e arbitrárias não constituíram “excessos” ou ”abusos”, “mas sim uma política de Estado, com uma cadeia de comando”.
A CNV identificou 434 casos de mortes e desaparecimentos de pessoas sob a responsabilidade do Estado durante o período de 1946-1988, conforme artigo assinado por José Carlos Dias, Maria Rita Kehl, Paulo Sérgio Pinheiro, Pedro Dallari e Rosa Cardoso.
Uma forte onda autoritária – onde alguns partidos neofascistas e neonazistas integram coalizões governamentais- – varre a Europa.
E para tristeza (não DESISTÊNCIA) nossa, chegou ao Brasil.
“Esse revisionismo negacionista da ditadura de 1964, constrangedoramente, vai ao encontro desta onda”, afirmam os autores citados.
(Então não me peçam: “deixe de falar sobre temas dolorosos ; precisamos esquecer tudo”.)
Parafraseando Friedrich Nietzsche: a mim não foi concedido o benefício do esquecimento.
(Brasília, novembro de 2018)

EMANUEL MEDEIROS VIEIRA

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