Nascido
há 86 anos numa aldeiazinha no Concelho de Vale de Cambra, cresceu na ambiência
habitual à época das pessoas humildes que lutavam pela vida quotidiana, muitas
vezes de pura sobrevivência. Como muitas crianças suas contemporâneas e também
não bafejadas pelo berço dourado, calcorreou descalço campos, veredas e
ladeiras, guardando cabras e ovelhas, contribuindo dessa forma para o parco orçamento
familiar. Pai emigrado nos Estados Unidos da América, recebeu Carta de Chamada
aos 19 anos, mesmo contra sua vontade de abandonar a sua aldeia de Cavião, e abalou
para as Terras do Tio Sam, onde o pai labutava como embarcadiço.
Chegado
em idade militar aos Estados Unidos da América, e como saiu de Portugal já
naturalizado cidadão estado-unidense, é submetido a Inspeção Médica Militar,
como os demais cidadãos norte-americanos. Não sabendo falar inglês, e talvez
por razões de ligeireza formal, foi classificado como MD (Mental
Deficient) e livre, assim, do Serviço Militar. Aprendendo entretanto a
língua da sua pátria de acolhimento, e ávido de aquisição de conhecimentos,
ingressou na Faculdade de Biologia e licenciou-se nesta área. Eclode entretanto
a Guerra da Coreia e ele é submetido a nova Inspeção Militar. Como estudante
universitário que era e com aproveitamento académico ininterrupto, foi
conseguindo o adiamento de ingresso nas fileiras. Entretanto a Guerra acabou
(1950/53).
Sendo
a Medicina o seu sonho de sempre, veio licenciar-se na Universidade de Coimbra,
conseguindo, assim, alterar o sentido anterior de MD com que havia sido
rotulado, e de que gracejava, para Médico(Doutor). Posteriormente, e já
nos EUA, obteve a Especialidade de Medicina Interna, em Boston.
Como
homem bom que sempre foi, cedo procurou difundir os seus conhecimentos médicos,
principalmente junto da comunidade portuguesa consigo imigrada, quer através de
consultas pessoais a doentes que se apresentavam no seu consultório, graciosamente,
quer através de programas periódicos na Rádio, onde respondia a questões
colocadas por pacientes, orientando-os nos tratamentos específicos.
Aproveitando
a evolução tecnológica, resolveu estender esse braço amigo aos seus
conterrâneos, e, através do Skype (Programa Informático de Comunicação) e com
Câmara de Vídeo, conversava regularmente com eles, reunidos nas instalações do Museu-Biblioteca
da Associação Dr. Manuel Luciano da Silva, por si, entretanto, constituída na
sua terra-natal, aconselhando-os nas suas maleitas, utilizando uma verbalização
simples e acessível a todos, pois era de opinião que o médico tem que falar a
linguagem do doente.
Face
aos seus muitos artigos sobre Alimentação, Métodos e Postura de Vida Saudáveis,
postados no Sítio Informático da Associação e rapidamente difundidos através da
Internet por nossos concidadãos mais atentos a estas matérias (exemplo: os Benefícios
do Caldo Verde, prato tipicamente nacional) tornou-se rapidamente figura
muito conhecida e popular em Portugal e na Diáspora Lusa, e até entre
Estrangeiros, pois também escrevia em língua inglesa. Nesta linha de
pensamento, editou também livros, de que se destacará , a nosso ver, A
Electricidade do Amor!.
Amante
da História, principalmente a relacionada com a Epopeia dos Descobrimentos,
dedicou-se, conjuntamente com sua esposa, de seu nome Sílvia Jorge da Silva, ao
estudo aprofundado da chegada dos portugueses ao continente americano.
Sabedor
da existência da Pedra de Dighton, dedicou-lhe uma atenção especial,
escrevendo detalhadamente sobre ela (Os Pioneiros Portugueses e a Pedra de
Dighton) e, constatada que foi a portugalidade das inscrições nela
insertas, conseguiu, faseadamente, com a colaboração das entidades oficiais
locais, que esta preciosidade histórica, com um peso de 40 toneladas, fosse
retirada em 1963 do Rio Taunton e que esteja hoje colocada, com a dignidade que
o achado justifica, num Museu em Massachusetts. Posteriormente, e duma forma
também paulatina, empenhou-se no enriquecimento deste marco luso em terras
norte-americanas através da colocação de símbolos nacionais idos de Portugal,
nomeadamente de réplicas duma Caravela e do Padrão dos Descobrimentos, oferta
de entidades portuguesas.
O
Dr. Luciano, consciente do real valor, pelo simbolismo intrínseco, da Pedra de
Dighton, conseguiu o fabrico gracioso, por cidadãos estado-unidenses, de 6
réplicas, em fibra de carbono, estando uma colocada no seu Museu, em Cavião, outra
em Oliveira de Azeméis, outra em Lisboa - junto ao Museu da Marinha -, uma outra
no Funchal, outra na Ribeira Grande, nos Açores, e a última será colocada a
curto prazo também nos Açores, em Angra do Heroísmo, local donde os Corte Real
terão zarpado.
No Museu com seu nome, na sua aldeia - Cavião
Como
o seu amor à verdade, como ele nos disse pessoalmente, era o supremo desígnio para
o seu entusiasmo, fez várias e muitíssimas palestras por esse mundo afora, e escreveu
As Verdadeiras Antilhas: Terra Nova e Nova Escócia e Colombo Era 100%
Português. Mas, na nossa modesta opinião, a sua suprema obra acerca da
epopeia lusa será porventura o livro, em duas versões (uma delas é de Bolso), e
em parceria com sua esposa, Cristóvão Colon (Colombo) Era Português, conteúdo
fruto de pesquisa histórico-científica, inclusive nos arquivos antiquíssimos do
Vaticano, portanto com fundamentações comprovadamente assumidas, segundo suas
teses. Nele procura demonstrar que os portugueses não descobriram dois terços
do hemisfério, mas sim os três terços, logo, o mundo todo, justificando em
absoluto dessa forma a inclusão da esfera armilar na Bandeira Nacional. Este
livro serviu de inspiração a Manoel Oliveira, cineasta no ativo há mais tempo
em todo o mundo, ao seu filme Cristóvão Colombo – o Enigma, em cujo
trabalho entram também personagens assumindo ser o Dr. Luciano e a sua esposa.
Após
a leitura da obra do Dr. Manuel Luciano da Silva, tivemos o ensejo de
estabelecer contacto com a sua Associação e, a partir dela, e por vontade do
Dr. Luciano manifestada em mensagem eletrónica a nós diretamente endereçada,
passamos a poder conversar pessoalmente via telefone, com alguma frequência.
Fervoroso
defensor da Lusofonia e da Lusofilia, sentiu sempre, contudo, alguma
dificuldade em poder dinamizar agrupadamente este desiderato porquanto a
imigração portuguesa predominante na sua área geográfica de atividade é (era)
portadora de alguma iliteracia. Todavia, não esmoreceu nunca e, duma forma
apaixonada, tomava, quase isoladamente, iniciativas atinentes a consubstanciar
aqueles desígnios.
Soubemos,
por ele próprio, que se se deslocaria a Portugal em julho/agosto do ano
passado. Somos repentinamente informados, já quase em cima do dia combinado,
que a sua vinda tinha ficado adiada por razões de saúde. Feito logo de seguida
um telefonema para a sua casa nos EUA tentando indagar o que se passava, logo
nos tranquilizou informando que não era nada de grave, apenas uma aborrecida
arritmia, logo, passageira. Ficamos na expectativa da remarcação da viagem, mas
somos surpreendidos pela infausta notícia do seu repentino passamento em 21 de outubro,
devido a ataque cardíaco.
Marcada
a devida homenagem pela sua Associação na sexta-feira imediata, logo nos
quisemos nela incorporar pessoalmente e render-lhe o nosso tributo.
Em
1968 foi condecorado com o Grau de Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
Em 6
de dezembro último, foi feita, em sua homenagem, uma cerimónia oficial na Sociedade
de Geografia de Lisboa, precedida de um momento muito emocionante e que
decorreu, com grande dignidade, na Sala de Portugal, durante o qual foram
impostas as insígnias a Manuel Luciano da Silva, a título póstumo, do Grau de
Comendador da Ordem do Mérito, que lhe havia sido atribuído em 2011.
Curvamo-nos,
pois, perante a memória deste grande português e procuraremos enaltecer a obra
por si legada, que será (é já) património mundial, pois a Verdade Histórica
acaba implacavelmente por se impor.
Agosto 2013
Carlos Jorge
Mota
(Artigo publicado no sítio informático NÓS REVISTA - http://www.nosrevista.com.br/ - bem como na Revista NOVA ÁGUIA nº 11, páginas 256 a 258 - nesta última sem fotografias e com a devida adaptação, no final do texto, ao reconhecimento do MIL- Movimento Internacional Lusófono)
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