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segunda-feira, 5 de agosto de 2019

UM AMIGO QUE PARTE




Assistir à última partida de alguém próximo, familiar ou amigo,  é sempre um momento de grande e espontânea reflexão, pela instantânea consciência da finitude da vida, que, felizmente, para auto-defesa, o cérebro atira permanentemente para as calendas do pensamento.
Ver partir um Grande Amigo, sabendo mesmo antecipadamente que tal notícia não seria grande surpresa, face ao prolongado e duro sofrimento psíquico e físico confessados, é um soco no estômago que coloca o organismo num tal entorpecimento e pensamentos difusos que impedem o discernimento até ao inevitável enfrentamento da cruel realidade.
Pois, o Emanuel partiu em de 29 de Julho passado, por mera coincidência exactamente no dia que minha filha, Raquel, perfez 44 anos. Dia que deveria ser de alegria virou data de enorme tristeza e amargura.
Desde há muito tempo o Emanuel me alimentava com as suas maravilhosas crónicas, para posterior postagem no meu Blogue Pessoal, algumas delas duma contundência tal que só quem conheceu o seu permanente passado de luta intrépida por um Mundo Melhor, decorrente do seu intrínseco humanismo, compreenderá em plenitude o seu pensamento.
Desde que o constituí, procurei que o meu Blogue fosse o mais eclético possível, todavia, na última visita do Emanuel a minha casa, no Porto, em Portugal, em que me relatou a sua doença, perante uma previsível despedida definitiva a todo o momento face à inexorável deterioração evolutiva da sua saúde, prescindi de postagens de outras matérias que não as constantes dos Artigos com que o Emanuel me encantava. Daí a razão pela qual desde há bastante tempo o seu material ser o único postado no meu Blogue.
Pela grande cadência de Crónicas recebidas, que ultrapassava a boa gestão temporal do Blogue, houve um acumular de material, que ainda possuo em carteira, e, com o ainda seu conhecimento, esses Artigos iriam ser postados paulatinamente, de modo adequado, o que irá suceder.
Há um, todavia, recebido em Marco do ano passado, cujo conteúdo desde logo considerei uma autêntica Ode à Vida e uma preparação psicológica para a inevitável meta cuja data era imprevisível. Não o postei na altura e guardei-o para data mais adequada. Penso ser o momento oportuno para sua publicação. Fá-lo-ei agora, cônscio que estou em pensamento com o Emanuel, esteja ele onde estiver.



Quem era o Emanuel:

De Emanuel Medeiros Vieira 
quinta, 29/03/2018, 14:27
Bom dia Amigos!
Aqui é Célia, esposa do Emanuel, encaminho esse informativo, ao qual ele é candidato, indicado, pela Associação Internacional de Escritores e Artista, ao Prêmio, Nobel da Paz - 2018 
No momento,  ele se encontra impossibilitado de vir ao computador, devido a grave enfermidade, gostaria de compartilhar com vocês, só a simples indicação, já nos orgulha muito, da sua força, competência e bravura, momento tão difícil, para nós familiares.
Agradeço, e peço desculpas, pelo simples texto.
Célia de Sousa
Esposa do Emanuel Tadeu Medeiros Vieira – Escritor

Nota do Administrador: Há aqui um lapso da Célia: Trata-se do Prémio Nobel da Literatura e não da Paz. Ela andava já muito transtornada, é compreensível.

De Emanuel Medeiros Vieira:
Queria informar que meu esposo Emanuel Tadeu Medeiros Vieira foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura pela  "International Writers And Artists Association (IWA), sediada em Toledo, Ohio, nos Estados Unidos, e a língua oficial é o inglês, mas também é operada em francês, italiano, espanhol e português.
Queria ressaltar que ele nem sabe que eu estou escrevendo para os  senhores.
Está acamado, com fortes crises, devido ao câncer.
Para qualquer outra  informação, favor contactar com o e-mail 

Cordialmente, Célia de Sousa



                             

                                                            SOBRE A MORTE
                  
 "Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais"(Rubem Alves - a quem agradeço algumas citações neste texto, como a de Cecília Meireles). Quantos já escreveram o mesmo: já tive medo da morte. Sinto-me assim. Posso ter medo da dor, e sei como ela chega, não é em um barco perfumado. A dor maior? Não sei explicar. Como um serrote - indo e voltando, repito, indo e voltando (uma dor indescritível) na barriga, exatamente nos tumores, alojados no pâncreas e no fígado e, quem sabe, já em outros lugares. Indo e vindo. O perfume não é esse.
É de suor, morfina, veias furadas - e aquele cheiro de hospital.
E a morte na soleira da porta. Olha-te - não cinicamente - mas como o olhar de uma vencedora, que sabe que - NO FINAL - ganha sempre.Também não tenho medo da morte.
"O que sinto é uma enorme tristeza" (do mesmo Rubem Alves). Ele lembra Mário Quintana: “Morrer, que me importa? (…) O diabo é deixar de viver.” A vida é tão boa! Não quero ir embora…"
Cecília Meireles dizia: “E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega… O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias… Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto…”
(Salvador, Bairro da Graça, março de 2018)
EMANUEL MEDEIROS VIEIRA
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Carlos Jorge Mota <carlosjorgemota@gmail.com>
08/03/2018, 21:07
para Emanuel
Caro Emanuel

Meu irmão partiu aos 54 anos com um tumor na cauda do pâncreas, mas isto em 1986, portanto sem os recursos clínicos que há hoje: quer ao nível do diagnóstico quer ao nível do acompanhamento terminal. Tinha já o corpo todo metastaseado, sofreu muito, e nós impotentes perante aquele cenário ...

A angústia dele e nossa era dilacerante.

Sei, melhor que ninguém, portanto, ler as tuas palavras com toda a carga emocional que elas carregam, mas deveremos, penso, viver dia após dia sempre na esperança, que não é vã, que o tratamento e cura poderão surgir a cada instante.

Um grande e afectuoso abraço.

Óbvio que todos os teus poemas, nomeadamente estes últimos, serão postados no meu blogue.


Emanuel Medeiros Vieira 
09/03/2018, 13:46
para eu
Estimado Carlos
Muito lúcidas e generosas as tuas palavras, amigo Carlos!
E são estimulantes!
É isso: VIVER CADA DIA!

Muito obrigado!
Grato e fraterno abraço do Emanuel



Emanuel Medeiros Vieira 
09/03/2018, 13:49
para eu
Apenas um  complemento, amigo Carlos!

Queria agradecer a postagem de textos de minha autoria no teu blogue.
Com a estima e a sincera gratidão do Emanuel

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Carlos Jorge Mota

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